terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Papa: “A sedia gestatória? Não, obrigado”.

Bento XVI tem problemas de artrose no quadril direito. Ele mesmo quis usar a plataforma móvel que pertenceu a seu predecessor. Seus colaboradores lhe propuseram o uso do antigo trono carregado aos ombros, porém, ele recusou.
João XXIII na "sedia gestatória"
João XXIII na "sedia gestatória"
Bento XVI tem problemas de artrose, um problema que afeta 50 % das pessoas maiores de 60 anos. Durante trajetos longos surgem incômodos no quadril direito, ele mesmo pediu que a plataforma móvel que pertenceu a seu predecessor Karol Wojtyla fosse desempoeirada e que se movesse pela nave central da basílica de São Pedro. Porém, quando seus colaboradores mais próximos lhe propuseram o uso da velha sedia gestatória, ou seja, o antigo trono móvel levado nos ombros, Ratzinger respondeu sem vacilar: “Não, obrigado”.
No sábado, dia 15 de outubro, o padre Federico Lombardi, porta-voz vaticano, surpreendentemente comunicava no escritório de imprensa quase deserto que no dia seguinte, “durante a procissão de entrada desde a sacristia”, o Papa usaria a “plataforma móvel” que fora utilizada por seu predecessor. Lombardi acrescentou que “o objetivo é exclusivamente aliviar o esforço do Santo Padre, de modo análogo ao que já se está fazendo ao usar o papamóvel” no exterior e na Praça de São Pedro. Ao responder a uma pergunta, Lombardi acrescentou que não havia prescrições médicas, e que a plataforma móvel permitiria que os fiéis vissem melhor o Pontífice.
Alguns dias mais tarde, o cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone enfatizava precisamente este aspecto, como informou L’Osservatore Romano: “Vocês o viram usar a plataforma móvel, mas se trata simplesmente de uma maneira para que se possa vê-lo melhor. Portanto, trata-se de uma ajuda para ele, mas também para os fiéis”.
Sem dúvida, não há dúvidas da preocupação que causou a reaparição da plataforma: de fato, todos a associam à imagem do Papa Wojtyla idoso e enfermo, que começou a usá-la em 2000, quando tinha sérios problemas de locomoção por causa do Parkinson e de uma cirurgia de quadril que não havia surtido o resultado esperado. Até poucos dias atrás não se sabia nada dos problemas motores de Ratzinger, embora nas imagens transmitidas pela Televisión Española durante a Jornada Mundial da Juventude no mês de agosto passado, uma vez o Pontífice apareceu entrando na nunciatura de Madri apoiando-se em uma bengala branca, bengala essa que ele usa também no apartamento pontifício.
“Bento XVI como se pode perceber – confidencia ao Vatican Insider um colaborador de confiança do Pontífice – pode caminhar, subir e descer escadas”. Porém, prossegue, “tem problemas de artrose e, por isso, durante trajetos longos surgem alguns incômodos no quadril direito”. A decisão de usar a plataforma móvel foi somente dele: deste modo se sente mais seguro e pode calibrar melhor as suas forças”.
Pio XII na "sedia gestatória"
Quando Ratzinger pediu a plataforma, uma espécie de carro empurrado pelos “carregadores pontifícios”, seus colaboradores lhe fizeram uma contraproposta: “Santidade, temos a sedia gestatória, que permite que o Papa seja visto a uma grande distância… Se poderia usar de novo!”. Porém, o interessado em seguida rejeitou a oferta com um amável “Não, obrigado”, preferindo permanecer com os pés no solo. A sede gestatória foi usada pela última vez pelo Papa Luciani em setembro de 1978. Paulo VI, que continuou usando a mesma depois da abolição do respectivo cortejo de guardas nobres rodeado de leques de penas de avestruz, explicou a seu amigo Jean Guitton porque havia tomado esta decisão: “Me dei conta de que a incômoda sedia, que dá a sensação do mar e das ondas, me permite precisamente estar mais próximo de todos. Fica-se elevado acima de todos, para que todos possam ver melhor, sem desigualdades nem precedências”.
Ratzinger, por outro lado, não quis desempoeirá-la, quase antevendo a polêmica. Que de toda maneira não faltou, incluindo somente a causa da reaparição da plataforma: o vaticanista do Telediario de Rai 1, Aldo Maria Valli, em um comentário no sítio vinonuovo.it, definiu a decisão como “um gesto que destoa e que tem um valor profundamente anti-conciliar. Tem o sabor do retorno ao papa rei que domina sobre a multidão e se destaca do resto da humanidade”, fazendo com que se assemelhe a “uma divindade pagã”.
Porém, Bento XVI não parece nada preocupado com a sua imagem nos meios de comunicação: “Me dou conta que as forças estão diminuindo – confiava há um ano a Peter Seewald no livro entrevista Luz do mundo. Sou o que sou. Não tento de ser outro. Dou o que posso, o que não posso dar, nem sequer tento… Faço o que posso”.

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