Depois de São João do carneirinho, o São Pedro, Chaveiro do céu, no dia 29 passado. Ao menos, nas festas do povo, no imaginário popular, é assim. Na liturgia da Igreja, são celebrados juntos, com solenidade, São Pedro e São Paulo, ambos martirizados em Roma, sob o Imperador Nero. Os cristãos, desde os tempos do Novo Testamento, reconheceram em Pedro a Pedra sobre a qual o Cristo quis edificar a sua Igreja (cf. Mt 16,18), aquele que tem a missão de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32). Historicamente, é indiscutível que Pedro foi martirizado em Roma, pelo ano 67. Por isso mesmo, desde a Antiguidade, a Igreja de Roma, Igreja de Pedro, é considerada a primeira entre todas as dioceses do mundo e cabeça de todas as outras dioceses. Com o Bispo de Roma todos os outros bispos devem estar em comunhão. Esta sempre foi e será a convicção de fé da Igreja de Cristo. A este respeito, são abundantes os testemunhos dos primeiríssimos séculos cristãos.
Mas, gostaria de propor-lhe, meu paciente Leitor, uma interpretação da missão de Pedro e de seus sucessores, os Papas de Roma, baseada em Mt 16,13-26. Neste texto excepcional aparecem toda a grandeza e toda a fraqueza do ministério de Pedro e seus sucessores.
Jesus perguntara aos discípulos que opiniões corriam a seu respeito. Eram muitas. Todas incompletas, várias totalmente erradas. Como hoje. Há, “Jesuses” para todos os gostos: filósofo e sábio, revolucionário de esquerda e agitador social, guru esotérico e bobo alienado, judeu exótico e rabi impostor... Haja opiniões, ontem como hoje! E, então, Jesus volta-se para os discípulos – os Doze e os de todas as épocas: eu, você – e dispara, como uma flecha: “E vós, quem dizeis que eu sou?” É Pedro quem responde em nome de todos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” A resposta é perfeita; é a essência mesma da fé da Igreja. E Jesus, então, revela: “Não foi tua inteligência; foi o Pai quem te revelou isso! E eu revelo quem tu és: Tu és Pedro (= Pedra) e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja. E dar-te-ei as chaves do Reino... para ligares e desligares...” Uma observação importante: a razão humana, entregue a si mesma, não poderá jamais penetrar na essência do mistério de Cristo: “Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair” (Jo 6,44). A fé cristã não nasce de um consenso da sociedade, de um raciocínio filosófico ou de uma aprovação científica... nem deve se preocupar em ser aceita pelo mundo: só pela graça, no âmbito da fé, podemos experimentar quem é Jesus. Certamente a fé não contraria a razão, mas a ultrapassa de longe. Pedro e seus sucessores têm a missão de dizer, como primeiras testemunhas, o mistério de Cristo ao mundo e a toda Igreja. Por isso, a autoridade de ensinar e de ligar e desligar, dada por Cristo...
Mas, o texto de Mateus continua. Jesus é o Messias, mas um Messias humildade e sofredor, que deve ser entregue, sofrer, ser morto e ressuscitar. É assim que Jesus é o Messias. E isso Pedro não compreendeu: chamou Jesus à parte e disse: “Que isso não te aconteça, Senhor!” A resposta foi duríssima: “Vai para trás, Satanás! Vai para o lugar do discípulo!Tu me serves de pedra de tropeço, pois pensas como os homens e não como Deus!” Aqui está o drama de Pedro e dos papas: quando escutam o que o Pai revelou, são pedra da Igreja, sobre a qual as portas do Inferno nunca prevalecerão. Quando agem de acordo com a lógica humana, são pedra de tropeço, que atrapalham e fazem a Igreja sofrer. Não tem sido essa a história do papado: pedra da Igreja tantas vezes e pedra de tropeço outras tantas?
Toda vez que a lógica de Pedro for a do Cristo morto e ressuscitado, for a lógica da cruz, que é loucura para o mundo; toda vez que os critérios de Pedro forem os do Evangelho, ele será Pedra para a Igreja. Toda vez que Pedro deixar-se levar pela lógica de cada época histórica, buscando aplausos ou seguranças humanas, procurando prestígio segundo os critérios dos homens, ele será pedra de tropeço.
O Papa será sempre “Pedro” e Cristo não lhe retirará nunca esta missão, nem depois que ele negou o Senhor (cf. Jo 21,15-17); mas será sempre chamado a converter-se novamente, a rever seus critérios, a seguir o Messias que veio para servir e não para ser servido: “Pedro, eu orei por ti, para que a tua fé não desfaleça. Tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos!” (Lc 22,32ss).
Quanto menos o mundo compreender o Evangelho, menos compreenderá o papel e a palavra de Pedro. Hoje, chamam o Sucessor de Pedro de obscurantista, porque diz não à experiência com células-tronco de embriões humano; chamam-no homófobo, porque, mesmo defendendo o respeito pelos homossexuais, afirma que jamais a Igreja poderá dizer que uma união entre pessoas do mesmo sexo é de acordo com o Evangelho. Não adianta: confessar Jesus como Senhor e Messias crucificado, critério do mundo e da vida, haverá sempre de custar a Pedro. Mas, é este o seu serviço, seu ministério em nome de toda a Igreja.
Para os católicos, Pedro será sempre um marco, um referencial, um porto seguro. Será também uma maravilhosa parábola da grandeza e da fraqueza humana. Ele é Pedra pela graça de Cristo e pedra de tropeço quando entregue às suas próprias forças. Mas, pensemos bem: no fim das contas, todos nós somos um pouco Pedro: fortes pela graça e tão fracos por nós mesmos...
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