Quando muitos ouvem falar de meditação, lembram-se talvez de um monge budista, sentado na posição de lótus num árduo trabalho por esvaziar sua mente de todo pensamento, repetindo palavras que o ajudem a isso – os mantras. Muitos dentre os próprios católicos desconhecem a meditação cristã, os métodos variados, criados e divulgados por vários santos e místicos da Igreja. No entanto, a maior confusão acontece quando aqueles que deveriam ser os mestres de oração para os fiéis e um testemunho orante para o mundo, não só ignoram este rico patrimônio cristão, mas desprezam-no diante dos métodos de pseudo-oração das religiões orientais.
Será verdade que para rezar precisamos esvaziar nossa mente de todo e qualquer pensamento, inclusive dos temas e realidades espirituais? Será a meditação somente um método de relaxamento corporal e mental diante do estresse do dia-a-dia? Ou será antes a oração uma conversa, um diálogo com Deus, tal como Nosso Senhor nos ensinou em Seu Evangelho: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação. (Lc 11, 2-4)
Os santos seguiram a Nosso Senhor e ensinaram que a “oração é uma conversa ou colóquio com Deus” (S. Gregório de Nissa); “A oração é falar com Deus” (S. João Crisóstomo); “a oração é a conversão da mente a Deus com piedoso e humilde afeto” (Sto. Agostinho); “A oração é a elevação da mente a Deus, a petição a Deus de coisas convenientes” (S. João Damasceno); “ a oração é o piedoso afeto da mente dirigida a Deus” (S. Boaventura); “é tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos nos ama” (Sta. Teresa D’Ávila).
Há alguns anos, porém, a prática de meditação oriunda das religiões orientais se espalhara de tal maneira nos conventos, mosteiros e paróquias católicas que aprouve a Santa Sé emanar um documento condenando os erros de espiritualidade dessa maneira de rezar. Erros de espiritualidade que refletiam também erros de doutrina sobre Deus, sobre a graça divina, sobre os novíssimos, etc. No dia 15 de outubro de 1989, festa litúrgica de Santa Teresa D’Ávila, uma das maiores místicas da Igreja, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspectos da Meditação Cristã”. Nela, por exemplo, pode-se ler: “a doutrina daqueles mestres que recomendam ‘esvaziar’ o espírito de toda representação sensível e de todo conceito, deverá ser corretamente interpretada” (…) “Alguns exercícios psicofísicos produzem automaticamente sensações de quietude ou de distensão, sentimentos gratificantes e, talvez, até fenômenos de luz e calor similares a um bem-estar espiritual. Confundi-los com autênticas consolações do Espírito Santo seria um modo totalmente errôneo de conceber o caminho espiritual. Atribuir-lhes significados simbólicos típicos da experiência mística, quando a atitude moral do interessado não se corresponde com ela, representaria uma espécie de esquizofrenia mental que pode conduzir inclusive a distúrbios psíquicos e, em certas ocasiões, a aberrações morais.” (n. 28)
Estas afirmações contêm em si uma riqueza muito profunda de ensinamento, não só para este tipo de meditação, mas também para outros “tipos” de oração muito em voga na atualidade, oriundas, dessa vez, não do Oriente pagão, mas do mundo neopentecostal americano. Não comentaremos nada sobre isso, mas inspirados por este documento vamos apresentar uma maneira prática de fazer a oração mental ou a meditação realmente cristã. O texto da meditação pertence a São João Bosco e o método é de Santo Afonso Maria de Ligório:
Método prático de fazer oração mental
“Como preparação, diga: I. Meu Deus, creio que estais aqui presente. Eu vos adoro com todo o meu ser. II. Senhor, mereceria estar agora no inferno; arrependo-me de vos haver ofendido; perdoai-me. III. Pai Eterno, por amor de Jesus e de Maria, iluminai-me. Depois, recomende-se a Maria Santíssima com uma Ave-Maria, recomende-se a São José, ao Anjo da Guarda, ao Santo Padroeiro.
Agora leia a Meditação [em seguida oferecemos um texto de D. Bosco para a Meditação]; vá interrompendo a leitura sempre que encontrar uma passagem que tenha um significado maior para você. Faça atos de humildade, de agradecimento e, principalmente, de arrependimento e de amor. Diga: “Senhor, fazei de mim o que quiserdes, ajudai-me a conhecer o que quereis de mim; quero fazer o que vos agrada.” Ore muito, pedindo a Deus a perseverança, o amor, a luz, a força para fazer sempre a vontade divina, a graça de orar sempre.
Antes de terminar a oração, faça um propósito particular, de evitar alguma falha mais freqüente. Termine com um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Nunca deixe de recomendar a Deus as almas do Purgatório e os pecadores.” (Santo Afonso Maria de Ligório, em seu livro “A Oração, o grande meio para alcançarmos de Deus a salvação e todas as graças que desejamos”)
D. Bosco escreveu pequenos textos para os seus jovens fazerem meditação diária, com temas escolhidos para cada dia da semana. Este que apresentamos é a meditação da quarta-feira e trata do juízo particular:
“1. Logo que a alma tiver saído do corpo, comparecerá diante do Supremo Juiz. A primeira coisa que torna esse comparecimento do pecador é que a alma se encontrará, sozinha, na presença de um Deus que ela desprezou, de um Deus que conhece todos os segredos do coração, e todos os pensamentos. E diante do Divino Juiz, a alma só poderá levar o pouco de bem ou mal que tiver feito durante a vida.
2. Então dirá aquele Juiz inapelável: – Quem és tu? Sou cristão, responderás. Bem, replicarás ele, se és cristão, vamos ver se procedeste como cristão. Em seguida começará a recordar-te as promessas que fizeste no Santo Batismo; lembrar-te-ás as graças que te concedeu, e enfim todas as tuas ingratidões.
Que te parece, ó cristão, desse exame? Que te diz a consciência? Estás em tempo, se quiseres. Pedes a Deus perdão de teus pecados e faze um sincero propósito de não tornar a pecar.
3. Esse é o momento em que, se a alma se achar manchada de pecado grave, ouvirá o inexorável juiz pronunciar a tremenda sentença: filho infiel, para longe de mim! Vai para o fogo eterno, a gemer com os demônios para sempre! Aquela alma infeliz, antes de afastar-se para sempre de seu Deus, volverá pela última vez o olhar ao céu, e no auge da desolação dirá: adeus, parentes! Adeus amigos, que habitais no reino da glória! Adeus pai, mãe, irmãos! Vós gozareis para sempre e eu serei para sempre atormentado! Adeus, meu Anjo do Paraíso! Não vos tornarei a ver jamais! Adeus, ó Salvador; adeus, ó Cruz Santa; adeus, ó Sangue em vão por mim derramado, não sou filho de Deus; serei para sempre escravo dos demônios no inferno. Então os demônios, que se tornaram senhores dessa alma, arrastando-a e empurrando-a, a farão cair nos seus abismos de torturas, de misérias, de tormentos eternos.
Ó alma, não receias que tal sentença seja também a tua? Ah! Por amor a Jesus e de Maria, porfia por conseguir com boas obras uma sentença que te seja favorável, e lembra-te de que, assim como é terrível a sentença proferida contra o pecador, igualmente consolador será o convite que há de dirigir Jesus a quem viveu cristãmente.
Meu Jesus, concedei-me a graça de pertencer naquele dia ao número dos bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me; protegei-me na vida e na morte, e especialmente quando me apresentar ao vosso Filho para ser julgado.”
Bem diferente é, portanto, a maneira cristã de rezar e os métodos pagãos de meditação. Aprendamos de Nosso Senhor, aprendamos dos Santos, aprendamos da Santa Igreja: rezar não é esvaziar a mente, mas falar com Deus!
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