sábado, 2 de julho de 2011

Criação ou evolução? Uma fé e uma ciência estreitas



   É forte, nos Estados Unidos, um movimento de cristãos protestantes fundamentalistas que deseja proibir que se ensine nas escolas a teoria da evolução, aquela que, inspirada em Charles Darwin, afirma que as espécies, inclusive o homem, foram evoluindo das mais simples às mais complexas. Para os fundamentalistas, tal teoria é um absurdo e uma impiedade, pois nega que Deus tenha criado tudo, tal qual as Sagradas Escrituras afirmam. Haveria, portanto, uma contraposição sem acordo entre o criacionismo (tudo foi criado diretamente por Deus) e o evolucionismo (as espécies foram evoluindo e o próprio homem é parte dessa evolução).
É triste. Não há contraposição alguma entre as duas percepções. A Sagrada Escritura ensina – e é verdade – que tudo quanto existe foi criado pelo Deus Uno e Trino e de modo radicalmente bom. Ensina também que o cume deste mundo visível, tirado do nada por Deus, é o homem, criado à sua imagem e semelhança. Ensina ainda que tudo quanto existe foi criado pelo Pai através do Filho e para o Filho na força potente do Espírito Santo, que sustenta e dá vida a todas as coisas. Afirma ainda que toda a criação e também a humanidade não caminham para um caos, uma destruição, mas para uma plenitude que ocorrerá no final da história, com Cristo e em Cristo.
A questão, mal compreendida pelos fundamentalistas e também por muitos professores universitários, é que a Escritura ensina isso usando uma linguagem muitas vezes poética, não científica, sem se importar sobre o “como” tudo isso aconteceu e acontecerá. Não compete à fé dizer como o mundo começou ou como o homem surgiu na terra. A Escritura não trata disso. Ela ensina de onde vem tudo e para que existe tudo; ela ensina sobre o lugar e o papel do homem na criação. Aqui fala a Escritura e a ciência não tem quase nada a dizer. A ciência trata dos fatos; a religião e a filosofia tratam do sentido dos fatos. Já explicar o “como” tudo surgiu e “como” o homem apareceu sobre a terra é papel da pesquisa científica e não da religião.
O triste é ver muitas vezes a ciência meter-se em questões religiosas e morais que ela não tem competência alguma para abordar ou, como é o caso dos fundamentalistas, ver religiosos, numa leitura enganada da Palavra de Deus, ignorarem o sentido genuíno dessa Palavra Santa.
Já nos anos quarenta do século passado, o Santo Padre Pio XII recordava que é necessário interpretar os textos da Bíblia levando em conta os gêneros literários nos quais foram escritos. As narrativas da criação, por exemplo, são textos poéticos. Não podem ser compreendidos como se fossem uma crônica informativa. A mesma ignorância demonstram também aqueles que, em nome da ciência, querem ridicularizar os textos bíblicos, interpretando-os de modo literal para dizer que ensinam bobagens. A Escritura lida como deve ser lida, não apresenta nenhuma contraposição com a ciência. Cada uma no seu campo, cada macaco no seu galho.


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