terça-feira, 28 de junho de 2011

Nota oficial do Cardeal Scherer sobre a parada gay de São Paulo

Parada Gay: respeitar e ser respeitado
Eu não queria escrever sobre esse assunto; mas diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã, durante a Parada Gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados.
Ficamos entristecidos quando vemos usados com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15 séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a dignidade de cristão e filho de Deus?!
“Nem santo salva do vírus da AIDS”. Pois é verdade. O que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja defende e convida todos a fazer. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também os sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos e imagens de sua fé e seus sentimentos e convicções religiosas. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de “amor”; o “mandamento novo” foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao ensinamento do próprio Jesus.
A Igreja católica refuta a acusação de “homofóbica”. Investiguem-se os fatos de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos religiosos católicos. A Igreja Católica desaprova a violência contra quem quer que seja; não apoia, não incentiva e não justifica a violência contra homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais; muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito. Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. Mas ela ensina e defende que a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.
Quem apela para a Constituição Nacional para afirmar e defender seus direitos, não deve esquecer que a mesma Constituição garante o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às organizações religiosas, símbolos e textos sagrados, é a contrapartida que se requer.
A Igreja Católica tem suas convicções e fala delas abertamente, usando do direito de liberdade de pensamento e de expressão. Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las com respeito, compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra a natureza; essa não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma ainda que a sexualidade não depende de “opção”, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo homem e pela mulher.
Causa preocupação a crescente ambiguidade e confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura. Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o desrespeito às leis da natureza biológica dos seres introduz neles a desordem e o descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da civilização e da humanidade?
As ofensas dirigidas não só à Igreja Católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso que a Igreja Católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova para eles; e são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 28.06.2011
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

Sátira do Papa e da eucaristia na Parada Gay, em SP

É assim que os homossexuais militantes respeitam a “diversidade”: ridicularizando o Papa Bento XVI e a eucaristia.

O portal de notícias da Globo, G1, reportou:

Fantasiado de “Bento 24″, José Roberto Fernandes, de 56 anos, conta que fez da parada [gay] oportunidade para um alerta. Entretanto, o figurino adotado certamente chocaria a comunidade católica. Nas mãos, levou um cálice que, além de fichas brancas que simbolizam hóstias, também possui preservativos. Por onde passava, provocava a atenção do público que o cercava para fotografá-lo.

“Faço um alerta à hipocrisia da Igreja Católica que proíbe a camisinha. Não é um protesto, mas uma homenagem e um alerta à igreja”, afirmou ele, que se disse católico praticante. Apesar da orientação da Igreja que proíbe homossexuais de comungar, José Roberto afirmou que participa da Eucaristia.

Vilipêndio religioso ainda é crime?

De acordo com o art. 208, do Código Penal, é crime vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso.

Por muito menos, em abril deste ano, a Federação Brasileira de Umbanda entrou com um processo no Conar (Conselho Nacional de auto-Regulamentação Publicitária) contra a Renault.

Os umbandistas se ofenderam por causa do comercial de TV que mostrava mães de santo girando num salão de concessionária. A Federação também deu entrada no Ministério Público Federal com um pedido de inquérito por “uso indevido de símbolos religiosos”

A propaganda gay, a cultura ex-cristã e os cristãos

Vai crescendo a olhos vistos a propaganda pró-gay. Não é somente a questão contra um preconceito injusto e violento contra as pessoas homossexuais. Trata-se, ao invés, de uma verdadeira apologia do comportamento homossexual, dos atos homossexuais e da chamada cultura gay. Os meios de comunicação fazem pesada propaganda e divulgam eventos gays, desde a Parada de São Paulo, passando pela desastrada decisão do Supremo Tribunal Federal, até a caricatura de casamento numa “igreja” do Rio de Janeiro. Sem dúvida, hoje em dia é chique ser gay!
Todos estes fatos devem fazer os cristãos refletirem... Não sejamos desavisados: cada vez mais posturas, atitudes e comportamentos totalmente estranhos à cultura cristã serão propagados, louvados e impostos... E por quê? Porque nossa matriz cultural já não é o cristianismo: o Ocidente renegou Cristo, apostatou de sua fé. Esta é a verdade! Certamente há ainda muitíssimos cristãos, mas o cristianismo como inspirador da cultura ocidental foi ultrapassado e não tem forças para voltar a inspirar esta sociedade.
Sei que muitos me tacham de pessimista e alarmista quando me escutam dizer isto. No entanto, não posso negar minhas ideias e minhas convicções! Mais ainda: quando as digo – e as tenho dito muitas vezes neste Blog – não é para ser pessimista ou alarmista, mas para ser fiel ao verdadeiro realismo cristão, que não tem medo de encarar a realidade porque sabe que a história está nas mãos do Cordeiro imolado e ressuscitado.
Vejamos: o que estamos presenciando é o descolamento do verniz cristão que, desde Constantino Magno, Imperador romano, passando por Teodósio, Clóvis e Carlos Magno, fora aplicado à sociedade ocidental. É verdade que o cristianismo impregnou a Europa medieval de modo admirável e fecundo, gerando a Cristandade. Mas isto passou! É verdade também que a fé cristã nunca pode ser uma adesão de massa, adesão de uma multidão a Cristo, por moda ou força, sem passar pelo encontro pessoal e transformador com a sua adorável Pessoa. Ora, desde a segunda metade do século XIV, a sociedade ocidental foi se afastando da adesão ao Senhor e foi-se criando uma torta concepção de que o homem somente será ele mesmo quando livrar-se de Deus e do seu Cristo: não a um Deus que diga quem sou, como devo viver ou o que devo crer ou fazer! É esta a ideologia que se impôs e tem triunfado no Ocidente. E sobretudo nas últimas décadas este processo de descristianização da c. ultura ocidental assumiu uma profundidade e uma aceleração impressionantes. Como os cristãos devemos reagir, como devemos nos portar?
1. Fundamentalmente, aprofundando a nossa fé como encontro com Cristo e adesão amorosa à sua Pessoa. O cristianismo é uma questão de amor apaixonado por Jesus: não é questão de maioria, não é questào de todo mundo ter que ser cristão; é questão de amor, de um encontro transformante de amor! Esse amor é estritamente pessoal, mas não é individual: leva-nos à Comunidade dos amantes de Cristo, dos seus discípulos, que o têm como absoluto critério e verdade da existência: a Igreja. É no "nós" da Igreja que experimentamos o Senhor vivo na Palavra proclamada na Escritura e interpretada pela Comunidade de fé em plena sintonia com a doutrina dos Apóstolos, bem como é aí que recebemos e vivenciamos constantemente a graça salvífica do amado Jesus nos seus gestos perenes, que são os sacramentos.
2. Num mundo que oferece todas as porcarias e aberrações possíveis e imaginárias, todos os caminhos mais disparatados e antievangélicos, é imprescindível compreender e estarmos convictos de que nosso modo de viver não decorre de uma norma moralizante exterior, mas do nosso amor, da nossa adesão incondicional a Cristo Jesus, Verdade de toda a humanidade: o amor tem suas exigências e negá-las é não amar, é tornar vão o amor! Assim sendo, a vivência da moral cristã não deve ser vista e vivida como uma regra opressora, mas como expressão de um compromisso de amor exigente porque envolve toda a vida e a vida toda.
3. Vivemos no mundo – num mundo agora "multicultural" e, de modo geral, hostil ao cristianismo. É importante ter convicção de que somos diferentes, de que a escolha de Cristo nos separou do mundo; é essencial não negar a nossa fé, não esconder nosso modo de crer e de viver! Nunca caiamos na ilusão tola de que aplaudindo e mascarando os erros do mundo seremos aceitos e converteremos o mundo. Um dos grandes erros dos cristãos atuais é pensar que ainda somos iguais a todo mundo e que todo mundo nos compreende! daí um irenismo tolo, uma simpatia meio retardada diante dum mundo hostil! Isso sempre degenera somente em covardia e infidelidade ao Senhor e aos testemunho que devemos dar dele. É nosso dever respeitar o mundo, compreender que cada um tem o direito de seguir seu caminho e tomar o rumo que bem entender para a sua vida, mesmo que esse leve à morte e ao inferno. A nossa questão fundamental é que os cristãos vivam como cristãos e proclamem com toda a coragem a sua fé, sem medo nem complexos: cristãos que vivam como cristãos!
4. É necessária também a coragem serena e segura de dialogar com os que não são cristãos. Dialogar é dizer claramente quem somos, no que cremos, como vivemos, o que é certo e o que é errado para nós. Dialogar é escutar os outros, respeitá-los sinceramente, alegrar-se com suas virtudes e acertos, reconhecer seus valores, mas sem ceder um milímetro naquilo que é essencial do nosso modo de crer, de viver e de celebrar segundo Cristo. Somente uma atitude assim nos torna dignos do respeito dos outros. E se não nos respeitarem e se nos excluírem, nada mais estaremos vivenciando que aquilo que o nosso Jesus nos preveniu que aconteceria com seus discípulos e nos tornaria dignos dEle! 
Voltemos ao tsunami da propaganda gay. Podem fazer paradas gays, podem fingir casamentos cristãos em pseudoigrejas pseudocristãs, podem dizer que é lindo e normal a vivência da homossexualidade nas relações sexuais, podem afirmar isto e muito mais... Os cristãos sempre terão os olhos e os ouvidos voltados para a Palavra de Deus e para a constante doutrina católica e apostólica: respeitaremos as pessoas homossexuais, refutaremos veementemente qualquer violência ou desrespeito para com elas, afirmaremos sua dignidade humana e de criaturas de Deus, sua capacidade de uma vida reta, de uma vida moral elevada e de real santidade como discípulos de Jesus Cristo. Ao lado disso, dizemos e diremos sempre que o caminho que Deus pensou para a vivência sexual é a heterossexualidade, que as relações sexuais homossexuais são contrárias ao plano de Deus e por ele não são abençoadas nem mesmo com o pretexto de amor – não se confunda amor com sexo nem se resuma amor a sexo ou expressão de amor a relação sexual. Diante de Deus não há nem pode haver casamento homossexual! Também não daremos nunca o nome da família a um par homossexual, não aceitaremos nunca como normal e como direito de quem quer que seja que um par homossexual adote crianças.
Quanto aos homossexuais cristãos, devem sempre ser acolhidos na comunidade cristã, amados, tratados como irmãos, com a maior naturalidade; devem ser ajudados por quem de direito na direção espiritual e na confissão a caminhar na vida fazendo o possível para seguir os preceitos do Senhor do melhor modo que puderem. Se alguma vez caírem, que procurem o sacramento da Penitência, que o Senhor nos deixou a todos como remédio para nossos males.
A questão da homossexualidade precisa ser desdramatizada pelo cristãos: somos todos feridos e redimidos por Cristo. Quem tiver suas feridas e crer em Jesus, que se aproxime dele para dele receber o perdão, a cura interior e a força para ir se superando até que cheguemos todos à estatura do Cristo Jesus. É assim que os cristãos, cada vez mais minoria, serão uma luz – luz de Cristo - num mundo em trevas, serão sal que dá sabor a esta sociedade sem graça e revelarão uma paz e uma alegria de viver que farão os de fora vez por outra perguntar de onde nos vem isto. E os que arriscarem a pergunta haverão de encontrar uma só resposta: vem de Jesus, chamado Cristo! Assim eu vejo esta questão toda... E por isso mantenho minha serenidade...

sábado, 25 de junho de 2011

XIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Quem recebe um profeta, receberá recompensa de profeta; quem um justo, recompensa de justo (cfr. Mt 10,41); quem a Cristo, recompensa cristã. Esse é o argumento que eu gostaria de desenvolver hoje tendo presente o versículo anterior: “Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40). Em que consiste essa recompensa cristã?
Há uma recompensa temporal e uma eterna. É Jesus quem nos diz: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna” (Mc 10,29-30). Por tão agradável seguimento está prometido tão grande tesouro! Jesus não quer que abandonemos as pessoas queridas, mas que Deus tenha o primeiro lugar nas nossas vidas; não está fazendo propaganda de uma “teologia da prosperidade” – como tantas seitas atuais –, mas está falando daquelas coisas que não faltam àqueles que amam a Deus: alegria, a pesar dos pesares; não está falando de um tempo eterno, mas simplesmente da eternidade.
O céu, também entre os pagãos, sempre foi descrito de uma maneira bela. Homero, por exemplo, não pode imaginar o Olimpo dos deuses gregos sem pensar na bem-aventurança e nas alegrias eternas: “Tendo assim falado, Atenas de olhos brilhantes retirou-se para o Olimpo, onde dizem ser a morada eternamente estável dos deuses. Nem os ventos a sacodem nem as chuvas a inundam, nem ali cai neve; mas sempre ali reina serenidade sem nuvens, de deslumbrante alvura. Para ali, onde os deuses bem-aventurados passam os dias em perene alegria, se dirigiu a deusa de olhos brilhantes” (Homero, “Odisséia”, VI).
Por toda a eternidade… Para sempre… Com Deus, com Nossa Senhora, com o nosso anjo da guarda, com aqueles amigos santos que colaboram com a nossa santificação. Estaremos felizes contemplando a glória de Deus.
Para sempre? Será que não enjoaremos? De fato, na terra, qualquer coisa que fazemos, por prazenteira que seja, entedia quando demasiada. Uma pessoa que gosta de doce deleita-se com uma caixinha de chocolates; mas se lhe derem cem caixinhas do mesmo chocolate, essa pessoa não aguentará, pode até mesmo chegar a não querer comer chocolates na vida.
Será que contemplar a Deus por toda a eternidade não é uma atividade monótona e até mesmo chata? Se assim for, vale a pena ir ao céu? Conta-se que um diabinho disse a um homem que estava indeciso em converter-se ou não ao cristianismo que não valia a pena ser cristão e depois ir ao céu porque ele teria que praticar um montão de virtudes chatas e depois ir ao um céu monótono e enjoado. As virtudes aborrecidas a que se referia era a obediência, a castidade, o desprendimento dos bens materiais, a bondade, o perdão. O diabo, para convencê-lo disse também que enquanto no céu os bem-aventurados contemplam sempre o rosto de Deus, no inferno se contempla sempre coisas diferentes e que, além do mais, existiria muita festa, muito álcool, mulheres, prazeres. O pobre coitado que estava pensando em converter-se tomou uma decisão: “- vou pensar nisso da conversão depois”.
Talvez o problema da proposta cristã que poderíamos fazer aos nossos semelhantes seria mostrar um cristianismo chato, enjoado, empenhado na prática dumas virtudes caducas e que, no fim de tudo, nos levaria a um céu mais chato ainda. Se um cristão passa essa imagem aos outros, estaria fazendo um mal apostolado.
As virtudes cristãs são alegres, dão otimismo à vida e nos colocam sempre em disposição de entregar-nos mais e mais aos outros e a Deus por amor aos outros. O céu não pode ser algo monótono. A explicação que mais me convence é aquela que diz que a felicidade inicial que experimentarmos ao ver a Deus permanecerá para sempre, por estarmos na eternidade. Mas, ao mesmo tempo, me inclino muito por aquilo que diz S. Gregório de Nissa: a bem-aventurança eterna saciará todos os nossos desejos, mas não se trata dum estaticismo cuja novidade já não tenha cabida. Não! Deus é infinito e a nossa alegria será sempre a de quem já recebeu todo o necessário para a sua felicidade eterna, mas que parte dessa felicidade é a descoberta de realidades sempre novas. Um teólogo moderno, Jean Daniélou, expressou tudo isso de uma maneira verdadeiramente poética: a nossa viagem terminar-se-á não na ascensão a uma cima definitiva, mas no maravilhoso descobrimento de que os países descobertos são apenas uma promessa de “lugares” ainda mais belos que os conhecidos até então e que estão por descobrir.
Pe. Françoá Costa

A oração, vital como a água – III



Vamos ao último artigo destes três sobre a oração. A questão, agora, é: como rezar?
Vou, primeiramente, apresentar uma classificação bem simples dos tipos de oração. Os dois grandes modos de oração são oração vocal e oração mental. A oração vocal é qualquer oração que rezamos decorada. Por exemplo: mesmo quando rezamos somente com a mente o Pai-nosso ou a Ave-Maria, estamos fazendo oração vocal; quando rezamos um salmo também estamos fazendo oração vocal. É o caso ainda das jaculatórias, aquelas orações curtinhas que nos fazem permanecer durante o dia todo na presença de Deus. Quanto à oração mental, é a oração espontânea, aquela que brota do nosso afeto e da nossa imaginação com total criatividade. A vantagem da oração mental é que empenha mais a nossa atenção e o nosso afeto, além de nos fazer rezar nossas preocupações e situações existenciais. Quanto à oração vocal, tem a grande vantagem de nos manter na presença de Deus seja em que situação emocional estejamos. Tristes ou alegres, atentos ou desatentos, devotos ou áridos, a oração vocal tira-nos de nós mesmos e faz-nos estar na presença de Deus. Isso é muito importante, porque ensina-nos que o centro da nossa oração não somos nós com nossos sentimentos e preocupações, mas unicamente o Senhor, que deve ser amado e buscado acima de tudo. Além do mais, a oração vocal livra-nos do subjetivismo e da necessidade de estar sempre inventando palavras e assuntos para rezar. Neste sentido, a melhor oração vocal são os textos da Sagrada Escritura. Isso mesmo: rezar com a Bíblia, rezar repetindo a Palavra de Deus, sobretudo os salmos. Quem reza a Liturgia das Horas pode experimentar de modo privilegiado esta realidade. Basta recordar que quando os judeus dizem: “Eu medito nas tuas palavras”, estão querendo dizer: “Eu repito com os lábios, decoradamente, as tua palavras”. Para a Bíblia, meditar é repetir a Palavra de Deus, ruminando-a com os lábios, o coração, a mente e o afeto.
Quanto aos movimentos interiores, a oração pode ser de ação de graças, de súplica, de intercessão, de louvor, de pedido de perdão. Em todas elas, o importante é que nos abrimos para o Senhor, reconhecendo nossa incapacidade de gerenciar nossa vida sozinhos, como se nossa existência fosse nossa de modo absoluto. Quem reza mantém-se na presença de Deus; quem reza vai aprendendo a deixar que Deus seja Deus na sua vida.
Finalmente, de modo concreto, como rezar? Reze diariamente; reze o dia todo! Como? Diariamente. Tenha, durante seu dia, um momento de cerca de 20 minutos, meia hora, para a oração. Comece acalmando seu corpo e seus pensamentos. Peça ao Santo Espírito que sustente sua oração. Pegue a Palavra de Deus. Pode ser o evangelho do dia, um salmo, ou outro texto que você escolher. Leia-o com calma, devotamente, com tranqüilidade. Enquanto lê, se uma palavra tocou você, pare ali, repita aquela palavra, saboreie-a. Acontecerá freqüentemente que virão afetos, sentimentos, palavras nos seus lábios. Deixe que venham! Você está rezando! Deus lhe falou e você está respondendo! Quando forem passando as palavras, continue a leitura do texto sagrado até terminar. Se quiser, faça mais um pouco de oração e termine sempre com um Pai-nosso e uma Ave-Maria. É importante que deixemos sempre que a Escritura questione a nossa vida, comprometendo-nos com um processo de constante conversão ao Senhor e aos irmãos. Caso você tenha lido e não tenha sentido nada, nada o tenha empolgado, não há problema; não se preocupe. Terminada a leitura do texto sagrado, simplesmente peça ao Senhor, com poucas palavras, que a sua Palavra dê fruto no seu coração e no chão da sua vida. Se você passar por momentos tão áridos e dispersos que não conseguir rezar de modo algum, pegue sua Bíblia, tome um salmo e vá copiando-o num caderno. Você está rezando: com as mãos, com os olhos, com a atenção e com o desejo sincero de agradar a Deus. Nunca esqueça que o valor da oração não está nos sentimentos, mas no desejo sincero de agradar a Deus e ser-lhe fiel.
Além desse momento privilegiado, é importante passar o dia na presença de Deus. Como fazer? Existem várias possibilidades. Um excelente modo é a reza do terço. Pode rezá-lo aos poucos, durante todo o dia, num momento um mistério, num outro momento, outro mistério. Assim você vai atravessando o seu dia na cadência dessa oração tão cara aos cristãos, com Maria, a Mãe de Jesus. Não se preocupe muito em dizer com atenção cada Ave-Maria. O importante é dizê-las de modo cadenciado, para que permaneça aquele clima de paz, que o irá colocando na presença de Deus. Não é a palavra em si o que mais interessa, mas o estar na presença de Deus. Além do terço, pode-se usar também as jaculatórias (que hoje chamam de mantra), isto é, frases curtas decoradas, que tantas vezes podemos repetir durante o dia. Por exemplo: “Meu Jesus, misericórdia!” ou “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim” ou “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós!” São orações vocais, simples, mas que têm um efeito enorme: mantém-nos na presença de Deus.
Finalmente, a oração mais importante e indispensável para o cristão: a oração litúrgica por excelência, isto é, a Missa. Ali, o próprio Cristo nos une à sua oração de modo eminente. É a Igreja reunida em santa assembléia que é convocada para ouvir a Palavra e dizer “Amém” e, depois, celebrar o Sacrifício eucarístico da Ceia do Senhor. Aqui, a nossa vida de oração chega ao máximo. Já não somos nós quem rezamos, mas o próprio Cristo, que na força do Espírito, nos eleva ao Pai.
Eis aqui, um simples e prático guia de oração. Espero, caro(a) leitor(a) que lhe traga proveito.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

27 Parresía: “O poder paralelo dentro da Igreja – II”

No episódio do Parresía desta semana, Padre Paulo Ricardo continua a nos falar da batalha que hoje travamos dentro da própria Igreja.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Formação para pregadores


Autor: Francisco Dockhorn
Publicado em Novembro de 2008


Este artigo foi redigido a partir de algumas sequências de formações, que, de 4 anos para cá, tive a graça de desenvolver e passar para pregadores de grupos de oração e encontros de evangelização.
As formações abarcam os seguintes assuntos:
- o chamado de Deus para a pregação

- conteúdo e forma da pregação

- a preparação da pregação

- as técnicas de pregação

Formação 1: O chamado à pregação

1. A pregação
O pregador tem a missão de anunciar a Palavra de Deus. Para compreendermos esse chamado que Nosso Senhor faz a muitos, voltemos nossa atenção às Suas Palavras aos Apóstolos, antes da Sua Gloriosa Ascensão:
"Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Este milagres acompanharão os que crerem; expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos e ficarão curados."
(Marcos 16, 15-18)

Os milagres que Nosso Senhor fala aqui tem a função de despertar a fé, e juntamente com outros sinais, tornar a fé compatível com razão. Diz o Catecismo da Igreja Católica (n.156): "Para que o obséquio de nossa fé fosse conforme a razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados das provas exteriores da Sua Revelação, Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade constituem sinais certíssima da Revelação, adaptados à inteligência de todos, motivos de credibilidade que mostram que o assentimento de fé não e de modo algum um movimento cego de espírito."
São Paulo acrescenta, nos mostrando a necessidade do anúncio do Santo Evangelho:
"Se com a tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e creres que Deus o ressuscitou do mortos, serás salvo. (...) Porém, como invocarão aquele em quem não tem fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (Romanos 10, 9.14-15)
Aparentemente, pode parecer que esse chamado de anunciar a Palavra de Deus é dirigido somente à hierarquia da Santa Igreja: ao Papa, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos Diáconos...mas isso não corresponde à realidade! O chamado de anunciar à Palavra de Deus é dirigido também aos demais membros da Santa Igreja. O próprio Sagrado Magistério da Igreja se pronunciou sobre isso, no Concílio Vaticano II, quando nos ensina:
"Cristo, o grande Profeta que, pelo testemunho de sua vida e pela força da sua palavra, proclamou o reino do Pai, cumpre o seu múnus profético até à plena manifestação da glória, não apenas por meio da hierarquia, que ensina em seu nome e com o seu poder, mas também por meio dos leigos, aos quais estabelece suas testemunhas e aos quais dá o sentido da fé e a graça da palavra (cf. At 2,17-18; Ap 19,10), para que façam brilhar a força do Evangelho na vida cotidiana, familiar e social." (Lumen Gentium, n. 35)
A pregação é um dos elementos importantes para o funcionamento de um grupo de oração (nos moldes que temos muitos hoje), e ocupa um lugar fundamental também em encontros e missões de evangelização.

2. O pregador
Todos os grandes pregadores da história da Santa Igreja, desde os Santos Apóstolos, passando por tantos Santos Canonizados, até os santos dos nossos dias, tiveram algo em comum: todos eles tiveram um encontro pessoal com Nosso Senhor e O seguiram. Por isso o Espírito Santo pode agir tão poderosamente através deles!
Essa é uma condição essencial para um pregador: ter a Sua vida entregue nas mãos de Nosso Senhor. Um pregador precisa ter uma vida de oração profunda e vida sacramental constante, participando do Santo Sacrifício da Missa e do Sacramento da Confissão. Precisa também ter adesão completa ao ensinamento do Sagrado Magistério da Igreja; caso contrário, seu lugar não é a pregação, pois estará pregando heresias, ou pregando algo que não crê e não vive.
Tal chamado exige um despojamento da parte do pregador, pois estará ele muitas vezes se expondo à humilhação e à incompreensão para a anunciar a Palavra de Deus. Mas Nosso Senhor também não agradou a todos. E como nos ensina São Paulo, "nos não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor." (II Cor 4, 5)







3. O chamado
Como discernir se somos chamados por Nosso Senhor para servir através da pregação? Ordinariamente, leva-se um certo tempo para que um discernimento acurado seja feito. Porém, há três linhas de discernfimento que são importantes que se reflita.
•    Tenho características pessoais importantes que um pregador tenha? Traços como certa desenvoltura no falar, didática ao transmitir um conteúdo, memória, capacidade de improvisação, disposição para ler e estudar, compreensão e assimilação do que se estuda, favorecem em muito este serviçof. Em geral, bons pregadores costumam ter algumas dessas características desenvolvidas, algumas mais, outras menos.
•    Quais as moções ou inspirações de Nosso Senhor que tenho percebido em oração à respeito deste discernimento?
•    A comunidade confirma que tenho a missão da pregação? A comunidade confirma isso fse percebo Nosso Senhor agindo na vida das pessoas através minha pregação, se sou convidado a pregar novamente em um meio onde já preguei, e assim por diante.
Nenhum desses três elementos traz uma resposta definitiva, nem positiva nem negativa, mas nos dão pistas para o discernimento.

Formação 2: Conteúdo e forma da pregação

1.    Conteúdo da pregação

O pregador à serviço de Nosso Senhor não prega simplesmente uma opinião própria, mas prega a Verdade, ou seja, a Palavra de Deus, revelada na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição, e nos transmitida e interpretada unicamente pelo Sagrado Magistério da Igreja.

•    A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita, ou seja, a Bíblia.
•    A Sagrada Tradição é aquela tradição oral que nos é transmitida desde o tempo dos apóstolos, expressa sobretudo nas definições dos primeiros concílios da Igreja e nos escritos dos Santos Padres.
•    O Sagrado Magistério são os ensinamentos do Papa e dos Bispos ensinando algo em Comunhão com ele: o Magistério, pela ação do Espírito Santo, é infalível quando faz definições em matéria de fé e moral (Cânon749) É ele que nos transmite a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição.
Diz o Concílio Vaticano II: "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. (...) A Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo plano de Deus, estão de tal maneira ligados e unidos que uma coisa sem as outras não se mantém, mas juntos, cada uma a seu modo, sob a ação do Espírito Santo, colaboram eficazmente para a salvação das almas."
(Dei Verbum, n.10)

Um dos erros fundamentais do protestantismo é a aceitação da Bíblia como Palavra de Deus e a não aceitação do Sagrado Magistério como instituído por Nosso Senhor - não é difícil de perceber que tal raciocínio carece de lógica, tendo em vista que foi o próprio Magistério da Igreja quem definiu os livros que deveriam fazer parte da Sagrada Escritura (os chamados "canônicos") e quais não deveriam (os chamados "apócrifos"), no pontificado do Papa São Dâmaso, próximo ao Concílio de Éfeso (século IV).
É uma questão de lógica ainda pensar que Nosso Senhor tenha instituído na terra uma autoridade para interpretar o que Ele revelou; caso contrário, cada um pegaria a Sagrada Escritura e sairia interpretando do jeito que bem quisesse - e é exatamente o que os protestantes fazem; por isso existem mais de milhares de denominações protestantes diferentes, cada uma interpretando a Sagrada Escritura de uma maneira diferente.
Com isso, podemos tirar duas conclusões:
•    Um pregador precisa ter conhecimento não apenas da Bíblia, mas também do ensinamento do ensinamento do Sagrado Magistério da Igreja, nos seus concílios, documentos, e sobretudo, no Catecismo da Igreja Católica, redigido à pedido do Papa João Paulo II; principalmente à respeito das questões mais controversas da atualidade, como a unicidade salvífica de Nosso Senhor e da Igreja Católica, a imoralidade do aborto, da eutanásia, dos sistemas comunistas e socialistas e outras questões.
•    Um pregador deve ter uma adesão completa ao ensinamento do Magistério da Igreja; caso contrário, seu lugar não deve ser a pregação, pois estará pregando heresias, ou pregando algo que não crê e não vive.

2.    Forma da pregação

A forma com que a Palavra de Deus é pregada depende de algumas variáveis, tanto do pregador, como da situação em que acontece a pregação. As variáveis referentes ao pregador dizem respeito principalmente às suas características de personalidade e a sua espiritualidade própria. As variáveis referentes à situação dizem respeito principalmente ao público e ao objetivo da pregação em específico.
Pregadores diferentes tem características de personalidade diferentes. Assim, um pregador é mais extrovertido, outro mais tímido; um é mais divertido, outro mais sério; um é mais voltado à concreticidade e objetividade, outro é mais voltado à sensibilidade.
Pregadores diferentes tem formas de espiritualidade diferentes, pois Nosso Senhor se revela a cada pessoa de uma forma única; e essa diferença de espiritualidade tem grande influência na forma como a pessoa prega. Assim, um pregador que tenha sua espiritualidade mais voltada para a realidade do Amor de Deus, transmitirá isso na sua pregação; o mesmo se dá com o pregador que tenha sua espiritualidade mais voltada para o combate espiritual, mais eucarística ou mais mariana.
Todas essas diferenças trazem uma riqueza muito grande a cada pregador, e uma riqueza muito grande para a Igreja. Pessoas diferentes são mais facilmente atingidas por formas diferentes de pregação, e Nosso Senhor se utiliza desta diversidade para que Sua Palavra atinja poderosamente à todos. Podemos lembrar aqui de pregadores conhecidos, Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior (reitor do seminário de Cuiabá-MT), Pe. Roberto Lettieri (Toca de Assis), Prof. Felipe Aquino (Editora Cléofas) e Dunga (Canção Nova), e como cada um deles tem uma forma diferente de pregar.
Aqui é importante lembrarmos o quanto é importante, principalmente para o pregador iniciante, o auto-conhecimento, para que possa descobrir sua forma própria de pregação, que em outras palavras, que pode ser a missão específica que Nosso Senhor tem para o seu serviço enquanto pregador. Nesse sentido, grandes pregadores conhecidos devem servir como referência, mas jamais como modelos a serem copiados.
Quanto ao público para quem prega, o pregador deve adaptar à ela a sua forma própria de pregação. Se o público é mais jovem ou mais velho; se tem alguma caminhada na Igreja ou não; se vive em um contexto social ou em uma casa de recuperação; e assim por diante.

3.    Pregação em grupos de oração ou missões de evangelização
Quanto ao objetivo da pregação, devemos ter em conta que a pregação em um grupo de oração aberto ao público ou no geral em um encontro de evangelização, normalmente deve ser o que chamamos de uma pregação querigmática. "Querigma" significa "anúncio". Pois podem haver pessoas que ainda não tiveram um encontro pessoal com Nosso Senhor ou nem iniciaram ainda um processo de conversão. Assim, tudo o que for falado nestas pregações deve partir desse pressuposto.
Uma pregação querigmática costuma girar em torno dos seguintes temas: Amor de Deus, pecado e salvação, fé e conversão, efusão do Espírito Santo. Isso não impede que se fale também de outras realidades essenciais da fé católica, eu também podem e devem ser faladas: os Sacramentos, a devoção à Virgem Santíssima, e assim por diante, e isso pode ser feito de uma forma querigmática. Aliás, é possível falar de qualquer assunto da fé católica de forma querigmática.
Certamente, em um grupo de oração ou em uma missão de evangelização no geral, se deve em geral evidenciar mais os aspectos positivos do querigma (o Amor de Deus, a Salvação, etc) do que os aspectos ascéticos (o pecado, a necessidade da conversão, etc). É preciso convencer as pessoas de que viver com Nosso Senhor é melhor do que viver sem Ele. Porém, também os aspectos ascéticos, em determinados momentos, precisam ser falados, caso contrário, nossa evangelização será uma evangelização incompleta, ou em outras palavras, uma "evangelização light".
Nesse sentido, dizer "você precisa mudar de vida para ser de Deus" é algo tão querigmático quanto dizer "Deus ama você!". Com  certeza, a pregação de certas verdades não agradará a todos, é isso é algo natural, pois com próprio Senhor foi assim. É o que acontece também com o Santo Padre Bento XVI, quando se posiciona  de uma forma contraria a cultura geral da nossa sociedade, dada a crise de fé e moral que vivemos. E há algo que nem Nosso Senhor mesmo intervém, que é a liberdade de cada um aderir ou não aderir à Verdade Revelada. Tenhamos, portanto, um prudente equilíbrio neste sentido, para que nossa evangelização seja realmente uma evangelização eficaz.

Formação 3: A preparação da pregação

Diz Santo Inácio de Loyola: “Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós´.
Em uma pregação, precisamos deixar Nosso Senhor fazer a parte Dele e nós fazermos a nossa.
Para fazermos a nossa parte, é importante que se faça uma preparação prévia da pregação; porém, não devemos nos prender escrupulosamente à ela, mas sim, ter a sensibilidade de nos adaptarmos à situação na qual estivermos pregando e permanecer abertos para as inspirações que o Espírito Santo pode dar no momento da pregação. Em geral, o pregador mais experiente tem uma necessidade menor desta preparação prévia; porém, nenhum pregador iniciante deverá cair em uma confiança temerária e não realizar nenhuma preparação.
Há desvantagens em o pregador ter um papel na mão; passa para o público a impressão que ele está simplesmente transmitindo o que está em um papel. Se ele for utilizar "cola" (e é bom que utilize, principalmente se for um pregador iniciante), a alternativa é que ele que o coloque um papel preso ou colado dentro da Bíblia; assim, não fica uma coisa tão chamativa.
Como sugestão de um modelo prático para a preparação de uma pregação, apresentamos aqui o "modelo dos 6 passos", que constituem seis passos para a preparação de uma pregação. São eles:
1.    Introdução
2.    Leitura bíblica
3.    Contextualização
4.    Aplicação
5.    Exemplos
6.    Conclusão

Vamos falar sobre cada um desses passos:
1. Introdução
Na introdução, o pregador pode fazer, se for conveniente:
•    Uma rápida apresentação pessoal
•    Estabelecer uma boa relação com o público, falando algo de forma descontraída, fazendo perguntas para o público responder, etc
•    Falar algo que sirva como uma motivação inicial para a pregação, para assim despertar a atenção do público para o que vai ser pregado.
2.    Leitura bíblica
É importante que o pregador leia a Sagrada Escritura junto com o público, para que o público faça de fato a experiência de ler a Palavra de Deus. Em geral, é preferível que em uma pregação se leia apenas um ou dois textos da Sagrada Escritura, para que se possa aprofundar nele(s).
3.    Contextualização
Consiste em contextualizar o texto bíblico que foi proclamado. Dependendo do texto e do assunto da pregação, pode-se responder aqui perguntas como:
•    Quem fala?
•    Para quem fala?
•    Por que fala isso?
•    Em que situação isso ocorre?
•    Qual o significado do que é dito na situação em específico?
4.    Aplicação
Consiste em aplicar na vida do público aquilo diz no texto bíblico proclamado.  Dependendo do assunto da pregação, pode-se responder aqui perguntas como:
•    Quais são as verdades importantes para nossa vida que são reveladas aqui?
•    Quais são as promessas de Nosso Senhor que há aqui?
•    A que atitudes nossas estão condicionadas o cumprimento destas promessas na nossa vida?
•    Qual o chamado de Nosso Senhor para nós aqui? 
5.    Exemplos
Consiste em ilustrar aquilo que é pregado, com exemplos, que podem tratar-se:
•    De situações vividas pelo pregador ou por outras pessoas
•    De situações hipotéticas
•    Testemunhos do pregador à respeito do que está sendo pregado
•    Analogias com coisas relativas à realidades que o pública esteja familiarizado
Nosso Senhor, durante sua pregação pública, manifestou a Sua Divina Sabedoria, quando falava de realidades espirituais profundíssimas, utilizando muitas analogias a qual o povo estava familiarizado: semeador, sementes, trigo, joio, fermento, sal, luz, ovelhas, pastor, e assim por diante. Aprendamos com Ele!
Aqui, é importante que o pregador seja o mais concreto possível nos exemplos, pois o  público quer ouvir coisas concretas, e não teorias. Tenho percebido que este é um dos principais pontos de uma pregação, pois é aí que o público se identifica. No modelo de preparação de pregação que estamos falando, tenho observado que em boas pregações a parte dos exemplos muitas vezes é a mais longa de todas.
6.    Conclusão
A conclusão pode ser feita, conforme a conveniência da situação, com:
•    um rápido resumo a respeito do que foi falado
•    uma exortação final ao público que sirva como fechamento da pregação. 

Feita o conclusão, o pregador pode introduzir a oração que segue-se à pregação.

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Está exposto abaixo um exemplo de uma pregação:

Tema: "Amor de Deus"
1.    Introdução
"Meu nome é X, tenho X anos, faço parte da associação X (...) Hoje, vamos falar sobre um assunto que pode mudar a nossa vida, pois vamos falar sobre aquilo que é a essência do Evangelho: o amor de Deus (...)"

2-    Leitura da Sagrada Escritura
I Jo 4,16

2.    Contextualização
"São João, quem escreve, teve uma experiência tão grande do amor de Deus que se dizia: "O discípulo amado". Ele escreve esta carta para que os cristãos tenham consciência do maravilhosa realidade do amor de Deus (...)"

4.    Aplicação
"Se Deus é amor, Deus me ama, Deus ama você! Como os primeiros cristãos viveram esta experiência do amor de Deus, hoje nós também podemos viver (...)"

5.    Exemplos / testemunho
"Deus está presente na sua vida e está te amando em todos os momentos. Nos momentos você se sente sozinho, está passando por dificuldades (aqui o pregador pode dar exemplos de dificuldade, se situações para que as pessoas possam se identificar), Deus está te amando. (...) O amor de Deus é como o amor de pai, que cuida do filho; como o amor de mãe, que é terno. (...) Santa Teresinha viveu de forma muita intensa a experiência do amor de Deus, por exemplo, quando... (...) A minha vida mudou quando eu tive a minha grande experiência com o amor de Deus, que foi assim: (...) "

6.    Conclusão / exortação
"Se você quer que sua vida também seja transformada, se abra agora ao amor de Deus..."




Formação 4: Técnicas de pregação

1.    Técnicas gerais
Por meio da utilização das técnicas gerais, o pregador estimula a atenção do público, estabelece uma boa relação com ele torna-o mais receptivo aquilo que ele prega. Elas dizem respeito tanto à aparência, postura do corpo, movimentação, olhar, mãos, voz e linguagem.
•    Aparência: a fonte que comunica uma mensagem é importante para que o público tome em consideração o que ela fala; e que, com o passar do tempo, as pessoas concentram-se na própria mensagem e não na pessoa que a comunica. Por isso, uma boa apresentação externa por parte do pregador é importante.
•    Postura do corpo: é importante evitar atitudes que transmitam preguiça ou falta de entusiasmo. Por isso, o pregador deve evitar sentar na mesa, se encostar nas paredes, e assim por diante.
•    Movimentação: é bom que o pregador se movimente por todo o espaço disponível que ele tem.
•    Olhos: é bom que o pregador olhe para todo o público, alternadamente. Não é bom o pregador fale olhando pra Bíblia, olhando para o chão, olhando para cima ou olhando para apenas uma parte do público.
•    Mãos: a mão é o órgão que mais fala, depois da boca. Na pregação, a movimentação das mãos deve enfatizar o que está sendo dito. Devem ser evitadas posturas que transmitem insegurança, como manter as mãos nos bolsos, os braços cruzados, mexendo no cabelo exageradamente, e assim por diante.
•    Voz: o volume e o tom da voz deve ser variar conforme o que o pregador está dizendo.
•    Linguagem: deve ser acessível e clara, sem utilizar terminologias com as quais o público não está familiarizado e procurando-se evitar tanto a gagueira quanto a repetição constante de vícios de linguagem, como "né", "tá", e assim por diante.

2. Técnicas da comunicação
Por meio das técnicas da comunicação, o pregador estimula a atenção do público e ilustra o que está sendo dito, de modo a facilitar a compreensão e assimilação do que está sendo pregado. São elas:
•    Motivação: consiste em motivar o público para que faça aquilo que a pregação exorta. Por exemplo: "Só quem for fiel à Jesus poderá entrar no céu!"
•    Argumentação lógica: consiste em convencer o público do que está sendo pregado através da argumentação lógica. Por exemplo:"Se a própria essência de Deus é o amor...Deus ama você." Uma variação deste técnica é o pregador procurar pensar em quais contra-argumentos o público poderá pensar a respeito do que ele fala, e já responder tais contra-argumentos. Por exemplo: o pregador fala que "nós precisamos entregar nossa vida pra Jesus." Aí pensa que alguém do público poderá estar pensando: "Ah, mas tem muita renúncia." Aí o pregador já responde tal contra-argumento: "Vale a pena apesar das renúncias."
•    Citação: consiste em argumentar o que está sendo pregado através da citação de uma frase da Sagrada Escritura, documentos do Sagrado Magistério da Igreja, escritos dos santos padres da Igreja, doutores da Igreja, de grandes teólogos ou de pessoas que tenham certa credibilidade. Entretanto, é preciso tomar cuidado para não se utilizar esse recurso de forma exagerada; isso pode deixar a pregação técnica demais.
•    Testemunho: consiste em o pregador testemunhar a respeito do que Nosso Senhor fez na vida dele; isso faz com que o público se identifique com ele  e perceba que o mesmo pode acontecer na vida de cada um.
•    Analogias: Nosso Senhor, durante sua pregação pública, manifestou a Sua Divina Sabedoria, quando falava de realidades espirituais profundíssimas, utilizando muitas analogias a qual o povo estava familiarizado, sal, luz, ovelhas, pastor, e assim por diante. Aprendamos com Ele!
•    Dramatização: com ela, o pregador dá vida aos personagens na situação que ele está comentando.
•    Repetição: consiste em o pregador repetir algumas vezes uma verdade que é anunciada, com o objetivo de enfatizá-la. Por exemplo: "Jesus é Deus! Jesus é Deus! Jesus é Deus!" Uma variação  desta técnica é convidar o público a ele mesmo repetir algumas frases que ele estão sendo anunciadas pelo pregador ou do texto da Sagrada Escritura que é proclamado.
•    Indagação: consiste em indagar o público para fazê-lo refletir à respeito do que está sendo pregado, seja deixando espaço para o pública se expressar, se isso for convienente ou mesmo não deixando esse espaço, apenas para que o público reflita.. Por exemplo: "A Igreja já canonizou muitos santos. Quem é que pode dar alguns exemplos?" Ou então: "Será que nós temos buscado a santidade na nossa vida?"
•    Descrição: consiste em descrever com palavras para que o público imagine com mais detalhes a situação (bíblica ou não) que está sendo comentada. Por exemplo (sobre a mulher que é curada por Jesus em Mc 5, 25-34): "Imaginem a situação daquela mulher, que tinha tal doença, o desespero dela! Aí ela ouve falar de Jesus e vai em busca dele. Vai se aproximando dele, talvez com dificuldade, por meio de toda aquela multidão, e consegue tocar Jesus."
•    Piadas: consiste em auxiliar a entendimento, de uma forma divertida, do que está sendo pregado. Para ser eficaz, o pregador deve ter uma perspectiva de que o público vai achar divertido, antes de contá-la.
•    Histórias: consiste em ilustrar aquilo que é pregado com alguma história da qual se tira uma lição em relação ao que está sendo pregado.
•    Emprego de exageros: consiste em empregar comparações exageradas. Por exemplo: "É mais fácil um gato latir do que alguém que não reza conseguir ser santo!"
•    Frase de efeito: consiste em ilustrar o conteúdo da pregação com uma frase de efeito ou ditado popular. Exemplo: “As grandes conquistas são suadas”.
•    Música: consiste em o pregador, durante a pregação, inserir uma música, seja cantada por outra (s) pessoa (s), ou por ele mesmo (se tiver voz suficientemente afinada para isso) ou por todo o público.
•    Dinâmicas: consiste em o pregador ilustrar aquilo que está sendo pregado através de uma dinâmica a qual o público possa de alguma forma participar - vale aqui a criatividade.
•    Cativar emocionalmente: consiste em o pregador falar algo que emocione o público e possa despertar sentimentos que favorecerão que ele se abra para Deus. Por exemplo: “Sabe quando você chorou? Deus estava contigo!” Uma variação desta técnica pode ser usada conjuntamente com a técnica de motivação, procurando-se associar uma emoção positiva à fazer o que Deus quer, e uma emoção negativa a fazer o eu Deus não quer. Exemplo: “Não existe maior heroísmo do que ser de Deus”.
•    Comer pelas beiradas: consiste em enfatizar em algum momento as conseqüências positivas de ser de Deus, buscando motivar o público, ao invés de enfatizar as razões últimas para ser de Deus. Esta pode ser a brecha inicial para atingir um público hedonista, materialista e fechado à graça divina. Exemplo: “O céu começa aqui na terra para quem é de Deus, pois o céu é a nossa esperança e nossa alegria! O resto vai passar” ou “Deus tem o poder de resolver todos os seus problemas, então entrega-te a Ele” ou “Um namoro santo é sinal de um casamento estável.” Para evitar más interpretações, se esta técnica for utilizada é bom que, em algum momento da pregação, o pregador mostre que a razão última para ser de Deus é o fato de Deus ser digno de ser adorado e amado e que disso depende nossa salvação.
•    Oração: consiste em o pregador, em algum momento durante a pregação, conduzir uma oração, seja para levar o público a já vivenciar o que está sendo pregado ou para predispor o público para o que está sendo pregado.
•    Melodia de fundo: a utilização de uma melodia de fundo pode ser usada quando o pregador quiser dar à pregação ou à parte dela um clima mais reflexivo.



Apêndice: os 23 erros do pregador


  1. Não buscar uma vida espiritual profunda, através da oração pessoal e da participação constante no Santo Sacrifício da Missa e no Sacramento da Confissão
  2. Não buscar aprofundar o seu conhecimento da doutrina da nossa Santa Mãe Igreja e da Sagrada Escritura
  3. Pregar com roupas escandalosas ou inadequadas, como, no caso dos homens, bermudas curtas ou camisas regatas, ou no caso das mulheres, roupas curtas, decotadas, transparentes, coladas ou blusas de alcinha; em ambos os casos, camisetas que de alguma forma exaltem idéias anti-cristãs ou que não sejam adequadas para o momento da pregação (por exemplo, camisetas de times de futebol ou partidos políticos)
  4. Não se preocupar com a boa aparência durante a pregação
  5. Não se preocupar com a postura do corpo durante a pregação
  6. Pregar com um papel na mão
  7. Pregar em grupos de oração abertos ou retiros de evangelização sem ter em mente que muitas pessoas ali não tiveram um encontro pessoal com Nosso Senhor, nem iniciaram o processo de conversão
  8. Pregar utilizando uma linguagem que o público não compreende
  9. Não pregar, quando há necessidade, a respeito de certas verdades comprometedoras do Santo Evangelho (como pecado, demônio, inferno), com receio de desagradar algumas pessoas
  10. Pregar algo de forma desnecessariamente forte ou agressiva; isso gera uma reação negativa desnecessária por parte do público
  11. Exortar a público a coisas que ele não tem condições de realizar (como exortar pessoas que estão em uma casa de detenção à participarem da Santa Missa dominical, se eles não tiverem essa possibilidade)
  12. Pregar o puritanismo ao invés de pregar a moral católica (o puritanismo, tendência gnóstica presente no protestantismo, considera moralmente más coisas que são moralmente neutras)
  13. Pregar de forma demasiadamente técnica, sem ilustrar a pregação com exemplos, testemunho e analogias
  14. Não se preocupar em corrigir os vícios de linguagem (como "né,", "tá", e assim por diante) durante a pregação
  15. Falar coisas que lhe tirem a credibilidade (como "eu acho que" ou "eu não sou a pessoa mais apta para estar falando isso")
  16. Fazer críticas imprudentes dirigidas a pessoas (principalmente autoridades da Igreja) ou grupos (por mais que tais críticas sejam verdadeiras)
  17. Anunciar, explicitamente, datas ou épocas para a concretização de fatos proféticos, com base em revelações particulares ou estudos de profecias bíblicas, e consequentemente, gerar polêmicas desnecessárias e deixar o pregador desacreditado caso o fato não se concretize
  18. Escandalizar partilhando publicamente pecados graves que tenha cometido recentemente
  19. Não corrigir (com caridade) se alguém do público falar algo equivocado durante a pregação que não esteja de acordo com o ensinamento de nossa Santa Mãe Igreja
  20. Cantar no microfone se não tiver voz suficientemente afinada para isso
  21. Não ter a abertura para adaptar ao momento aquilo que preparou para a pregação e para as inspirações e moções que o Espírito Santo talvez conceda durante a pregação
  22. Pregar ultrapassando o tempo que lhe foi concedido
  23. No momento da oração, continuar falando ao invés de conduzir a oração

Fonte: http://www.reinodavirgem.com.br











Fotos da Dedicação da igreja de Lagoa de São José