Neste dia 20, após Acaz, de cálculo tão humano, de razão tão na própria medida, de coração tão frio para com o Senhor, após Acaz, a menina moça Maria.
Quantos anos teria, por aquele tempo em Nazaré da Galileia? Segundo bons estudiosos, entre 12 e 14 anos. Cedo se amadurecia, em Nazaré da Galileia; cedo se morria... Era assim, a vida daqueles tempos, por aquelas bandas...
Maria, prometida a José. Maria, que amava José, que amava Maria... Maria, que como toda menina moça de Israel desejava casar, desejava ser mãe de muitos filhos, aumentando o número dos membros do povo de Deus, dos descendentes de Abraão... Quem sabe seus filhos, talvez seus netos ou bisnetos, não veriam os dias do Messias que o Senhor Deus haveria de enviar?!
Era esta a situação de Maria; assim se encontrava o coração de Maria...
E o Senhor vem, “entrando onde ela estava”, nos seus pensamentos, nos seus sonhos, nas suas esperanças... O Senhor vem. E quando ele vem, coloca de cabeça para baixo a nossa vida!
Ah, que Deus perigoso, o nosso Deus! Ah, que mania ele tem de dar a paz sem deixar em paz! Assim fez com Maria – e tantas vezes comigo!
Lá vem Gabriel (Poder de Deus, é o seu nome) para convidar a saltar nos braços de Deus, a aderir a um plano louco para a sabedoria humana e tão sábio para a loucura amorosa de Deus: conceberás, Virgem Maria; serás mãe, Virgem Maria, darás à luz, Virgem Maria! Teu Menino vem de Deus e não de José; teu Menino será rei, descendente de Davi; teu Menino será o Messias, será rei para sempre, rei de tudo e de todos!
A Virgem menina treme! O que Gabriel propõe não seria impossível: ser virgem e conceber? Para Deus nada é impossível! – Por que ter medo? Nada é impossível para Ele!
Maria não é tola, não é uma deslumbrada. Pensa, mede as conseqüências: Deus está à sua porta, à soleira da sua vida, pedindo-lhe licença para entrar, para nele realizar o seu plano de salvação, prometido aos Pais, anunciado pelos profetas, desejado pelas sucessivas gerações dos israelitas... Deus, o Eterno, o Santo de Israel, esperando à porta, pedindo licença, perguntando à mocinha de 12 anos se pode entrar! Que cena, que situação, que Deus!
Mas, se ela diz “sim”, o que será do seu amor por José? O que José pensará, o quanto sofrerá, como ficará? O que ela lhe dirá – há o que dizer numa situação dessas? O carpinteiro amado poderá rejeitá-la, decepcionado e sofrido. Ela poderá ser condenada por todos como infiel, mulher violada!
Que será do seu futuro? Como será tudo de agora em diante? Deus não explica, o Anjo não dá pista, além de uma só: para Deus nada é impossível!
Ah, sim: existe também um sinal: Isabel, velha e estéril, agora grávida no sexto mês! Para Deus nada é impossível!
Uma idosa estéril conceber é grande, sem dúvida! Mas, uma virgem conceber?! – Para Deus nada é impossível!
Uma virgem convencer seu bem-amado noivo a aceitar um filho que não é dele, convencer de que o filho é gerado no Espírito de Deus? – Para Deus nada é impossível!
Estão lá: a Virgem e o Mensageiro, Maria e Gabriel (Poder de Deus, significa o seu nome)... Da resposta da Virgem, dos lábios da Virgem agora depende tudo! Como não recordar as palavras de São Bernardo?
“Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia.
Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.
Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés.
E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.
Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.
Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.
Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento”.
E a Virgem, e Maria, tão diferente de Acaz, tão ao contrário de Acaz, consente, permite, crê, se abandona e exclama: “Eu sou a serva! Eu não me pertenço! Eu confio com inteira confiança! Vai, Gabriel: dize Àquele que te enviou que seja feito como ele sonhou, como ele pensou! Dize-lhe que a ele pertenço e para ele vivo! Que deixo meus sonhos para sonhar os sonhos dele!"
Maria, bendita Maria! Tu creste na palavra do Senhor! Maria, bendita Maria, tu te abandonaste, tu arriscaste a vida! Maria, filha de Abraão, nosso pai na fé! Maria, maior que Abraão! Maria, nossa Mãe na fé! Maria, tu acreditaste! Roga por mim, frágil na fé; roga por mim, pecador; roga por mim, tão medroso para sonhar os sonhos do meu Deus! Maria, bendita Maria, tu acreditaste na palavra do Senhor! Tu geraste a Palavra do Senhor! Maria, bendita Maria, teu nome seja amado e bendito para sempre, enquanto o mundo existir e por toda a eternidade , no seio da Igreja!
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