segunda-feira, 30 de maio de 2011

Renovação Carismática Católica




A Renovação Carismática Católica (RCC) é uma forma de espiritualidade, que se organiza como movimento eclesial, tendo como identidade a abertura e o uso dos carismas do Espírito Santo. Carismas são dons que o Espírito Santo concede com a finalidade primeira não da santificação pessoal do carismático, mas sim para a santificação dos outros membros da Santa Igreja. São Paulo, escrevendo à comunidade cristã de Corinto (1Cor 12,1-11) , cita vários deles: o dom de falar em línguas, o dom da profecia, o dom do discernimento do espíritos, e assim por diante.
O Sagrado Magistério, no Concílio Vaticano II, nos recorda da realidade dos carismas e nos ensina: "Espírito Santo não se limita a santificar e a dirigir o povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios, e a orná-lo com as virtudes, mas também, nos fiéis de todas classes, "distribui individualmente e a cada um, como lhe apraz", os seus dons (1Cor 12,11), e as graças especiais, que os tornam aptos e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis à renovação e maior incremento da Igreja, segundo aquelas palavras: "A cada qual...se concede a manifestação do Espírito para a utilidade comum" (1Cor 12,7). Devem aceitar-se estes carismas com ação de graças e consolação, pois todos, desde os mais extraordinários aos mais simples e comuns, são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Não devemos pedir temerariamente estes dons extraordinários, nem esperar deles com presunção os frutos das obras apostólicas; é aos que governam a Igreja que pertence julgar da sua genuinidade e da conveniência do seu uso, e cuidar especialmente de não extinguir o Espírito, mas tudo ponderar, e reter o que é bom." (Lumen Gentium, 12)
A RCC surgiu logo após o Concílio, em 1967, nos Estados Unidos, na Universidade de Duquesne, quando alguns jovens católicos, desejosos de uma experiência profunda do Espírito Santo realizaram um retiro em um fim de semana, buscando esta abertura aos seus carismas e dando início a uma nova forma de espiritualidade entre os católicos.
Já no início, a RCC foi muito combatida, e isso é natural por trazer uma forma de oração muito semelhante aos protestantes pentecostais. Porém, já na década de 70 o Papa Paulo VI acolheu a Renovação Carismática, assim como anos depois, o Papa João Paulo II o fez.
O Papa João Paulo II, falando ao Conselho Internacional da RCC, em Roma, declarou: "Na alegria e na paz do Espírito Santo, dou as boas vindas ao Conselho Internacional da Renovação Carismática Católica. No momento em que comemorais o 25° aniversário de fundação da Renovação Carismática Católica, uno-me de bom grado a vós, na ação de graças a Deus pelos inúmeros frutos que ela deu à vida da Igreja. A Renovação surgiu nos anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II, e foi um dom particular do Espírito Santo à Igreja. (...) Dado que os caminhos do Espírito, conduzem sempre a Cristo e à sua Igreja, e que o próprio Espírito orienta aqueles que escolheu como Bispos para apascentar a Igreja de Deus (cf. At 20,28), não pode haver conflito entre a fidelidade ao Espírito e fidelidade à Igreja e ao seu Magistério. Independentemente da forma que a Renovação Carismática assumir ´ nas orações de grupo, nas comunidades conventuais de vida e de serviço ´ o sinal da sua fecundidade espiritual será sempre o fortalecimento da comunhão com a Igreja universal e com as Igrejas locais." (14/03/1992)
Na mesma linha são as palavras do Cardeal Ratzinger - hoje Papa Bento XVI - que declarou: "O período pós conciliar pareceu corresponder bem pouco às esperanças de João XXIII, que esperava um "novo Pentecostes". Sua oração, entretanto, não ficou sem resposta no coração de um mundo feito árido pelo ceticismo racionalista, nasceu uma nova experiência do Espírito Santo que assumiu a amplidão de uma moção de renovação em escala mundial. Tudo o que o Novo Testamento escreve a propósito dos carismas que apareceram como sinais visíveis da vinda do Espírito Santo não é mais história antiga apenas, encerrada para sempre: essa história torna-se hoje vibrante de atualidade. Não é por acaso, em confirmação de sua visão do Espírito como antítese do demoníaco, que, "enquanto uma teologia reducionista trata o Demônio e o mundo dos espíritos maus como uma mera etiqueta, no contexto da Renovação surgiu uma nova e concreta tomada de consciência das Potências do mal, unida, bem entendido, à serena certeza da Potência de Cristo, que a todas submete. É preciso antes de tudo salvaguardar o equilíbrio, evitar uma ênfase exclusiva sobre o Espírito, que, como lembra o próprio Jesus, "não fala por si mesmo", mas vive e age no interior da vida trinitária. Semelhante ênfase poderia levar a opor, a uma Igreja organizada sobre a hierarquia, fundamentada, por sua vez, em Cristo, uma outra Igreja "carismática", baseada apenas na "liberdade do Espírito", uma Igreja que se considere a si mesma como "acontecimento" sempre renovado. Salvaguardar o equilíbrio significa também o justo relacionamento entre instituição e carisma, entre fé comum na Igreja e experiência pessoal. Uma fé dogmática sem experiência pessoal permanece vazia; uma mera experiência sem ligação com a fé da Igreja é cega. Enfim, não é o "nós" do grupo que conta, e sim o grande "nós" da Igreja universal. Só esta pode oferecer o contexto adequado para "não extinguir o Espírito e manter o que é bom", segundo a exortação do Apóstolo. Além disso, para atingir os últimos recônditos dos riscos, é preciso precaver-se de um ecumenismo fácil demais, pelo qual grupos carismáticos católicos podem perder de vista a sua unidade e ligar-se de modo acrítico a formas de pentecostalismo de origem não católica, em nome exatamente do "Espírito", visto como oposto a instituição. Os grupos católicos da Renovação no Espírito devem, pois, mais do que nunca "sentire cum Ecclesia", agir sempre em comunhão com o bispo, também para evitar os danos que surgem toda vez que a Escritura é desenraizada do seu contexto comunitário: o fundamentalismo, o esoterismo e o sectarismo. Certamente [a RCC] trata-se de uma esperança, de um positivo sinal dos tempos, de um dom de Deus para a nossa época. È a redescoberta da alegria e da riqueza da oração contra a teoria e práxis sempre mais enrijecidas e ressecadas no tradicionalismo secularizado. Eu mesmo constatei pessoalmente a sua eficácia: em Munique, algumas boas vocações ao sacerdócio vieram-me do movimento. Como em todas as realidades entregues ao homem, dizia eu, também esta é exposta a equívocos, a mal-entendidos e a exageros. O perigo, porém, seria ver apenas os riscos, e não o dom que nos é oferecido pelo Espírito. A necessária cautela não muda, portanto, o juízo positivo do conjunto" (Livro "A fé em crise?", Pg. 116/7 - Ed. E.p.u. - 1985)
É importante observar aqui que, embora ambos os Papas reconheçam a importância da Renovação Carismática no atual momento que a Santa Igreja vive, reconhecem que há perigos. Ocorre que os iniciadores da RCC haviam tipo certo contato com protestantes pentecostais, e por isso até hoje, em alguns meios, alguns membros da RCC ainda conservam algumas tendências errôneas de influência protestante. Tais erros estão aparecem sobretudo quando se vive uma indiferença prática em relação ao Sagrado Magistério da Santa Igreja, ou quando se coloca acima dele a ação carismática do Espírito Santo, como se pudesse haver contraposição entre ambos; ou quando se vive a fé como se fosse um sentimento fruto de uma experiência pessoal, e não uma adesão da inteligência à verdade revelada por Deus e transmitida a nós pelo Sagrado Magistério. Não há dúvida que tais tendências devem ser combatidas.
Como frutos da RCC, podemos citar as chamadas "Comunidades Novas", isto é, associações de fiéis que surgiram do movimento da RCC e vivem sua espiritualidade, cada uma com carisma próprio. Muitas delas apresentam a novidade de sacerdotes, consagrados e casais vivendo juntos em uma vida comunitária. Duas dessas Comunidades tem já seu estatuto aprovado por Roma; refiro-me aqui às Comunidades Emanuel e Beatitudes. No Brasil temos inúmeras delas; as mais conhecidas são a Canção Nova e a Shalom.

Francisco Dockhorn, 18/03/2006 Fonte: http://www.reinodavirgem.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário