Para os católicos do Brasil, este é o mês da Bíblia. A razão é simples: 30 de setembro é memória litúrgica de São Jerônimo, grande estudioso da Sagrada Escritura, que, no século IV, traduziu toda a Bíblia do hebraico e do grego para o latim, popularizando a Palavra de Deus. Essa tradução tornou-se tão difundida que recebeu o apelativo de “vulgata”, isto é “popular”.
A Bíblia não é um livro único; é uma coleção de 72 escritos, produzidos num arco de cerca de 1.300 anos. Neles está contida a Palavra de Deus, porque foi o próprio Espírito do Senhor que, misteriosamente, como só ele sabe fazer, inspirou tudo quanto os autores sagrados escreveram. É um incrível e admirável mistério: por trás das palavras humanas dos autores daqueles textos está a Palavra única do próprio Deus. As palavras da Sagrada Escritura são tão humanas: há erros gramaticais, erros de história, erros de ciência; há o modo de escrever próprio de cada autor humano e até mesmo seu modo de pensar pode ser descoberto naqueles dizeres tão humanos... Na grande maioria dos casos, nem mesmo os autores sagrados imaginavam que o que estavam escrevendo eram textos inspirados pelo Senhor... Foi o povo de Israel no tempo da antiga aliança e, depois, nestes tempos da nova e eterna aliança, foi a Igreja católica, inspirada pelo Espírito que permanece nela e a conduz sempre mais à verdade plena, quem foi discernindo quais escritos eram inspirados por Deus e quais não eram... Só a Igreja tem a autoridade de fazer esse discernimento; e ela o fez, com a autoridade que o Senhor lhe concedeu e a assistência divina do Espírito Santo que Cristo Jesus lhe garantiu.
Mas, que se esteja bem atento: Deus não se revelou na Bíblia! Revelou-se na história do povo de Israel e, na plenitude dos tempos, revelou-se de modo pleno na Pessoa de Jesus Cristo, o próprio Filho eterno feito carne, feito homem. A Palavra de Deus por excelência não é a Bíblia; é Jesus Cristo, o Verbo, a Palavra que se fez carne e habitou entre nós! A Bíblia nos traz o testemunho dessa revelação: ela é palavra de Deus porque nos traz a Palavra que é Jesus; de modo que nas palavras da Bíblia, encontramos a Palavra de Deus e esta Palavra é o nosso bendito Salvador, Jesus Cristo! Do Gênesis ao Apocalipse a mensagem última das Escrituras Sagradas é sempre Jesus: Jesus prometido, preparado e anunciado no Antigo Testamento; Jesus aparecido, entregue, contemplado, aprofundado, adorado e proclamado no Novo Testamento. São João da Cruz, num de seus escritos, assim imagina o Pai nos falando: “Já te disse todas as coisas em minha Palavra; põe os olhos unicamente nele; porque nele tenho dito e revelado tudo, e nele encontrarás ainda mais do que desejas saber. Este é o meu Filho amado: escutai-o”.
Assim sendo, não cremos na Bíblia; cremos em Jesus e só a ele adoramos! Não amamos Jesus por causa da Bíblia; amamos a Bíblia por causa de Jesus! É ele o centro, é ele a Palavra única do Pai! Quando escutamos, quando lemos as Escrituras e nelas meditamos, em última análise é Jesus mesmo que encontramos, com sua salvação, sua vida, sua plenitude, aquela da qual recebemos graça sobre graça! Por isso, no caminho de Emaús, em cada Missa e até mesmo em cada vez que entramos em contado com a Sagrada Escritura, Jesus mesmo nos fala dele e nos revela no texto sagrado tudo quanto diz respeito a ele e ao plano de salvação do Pai que ele, o Filho amado, veio realizar.
Assim é que a Igreja, escutando as Escrituras, escuta o próprio Deus que nos fala em Jesus e tudo quanto ali está escrito torna-se uma palavra viva para nós, tudo quanto Deus revelou na história do seu povo e maximamente em Jesus Cristo, torna-se presente na vida da Igreja e na nossa, que somos membros do seu Corpo. Pensando bem, é impressionante pensar que Deus nos fala: fala à sua Igreja, fala a cada um de nós, na sua Palavra que é Jesus!
Mas, a Escritura somente revela o rosto do Senhor e desvela seu amor divino a quem a escuta com um coração fiel e humilde. O curioso, o soberbo, o descuidado, nada encontrará a não ser uma coleção de textos antigos, do passado... No entanto, quando escutamos e lemos essas santas palavras - que trazem a Palavra que é Jesus - em docilidade ao Santo Espírito e em comunhão com a santa Igreja, então, a Escritura torna-se doce como o mel, luminosa como o sol do meio-dia, profunda como o céu e cortante como espada de dois gumes. Mas, atenção: a Escritura não foi dada a cada pessoa de modo privado, individual... A Sagrada Escritura foi dada à Igreja e somente é Palavra viva na vida da Igreja Povo de Deus! Ouvir ou ler a Escritura fora da mente e do coração da Igreja é ser condenado a não colher seu sentido unitário e profundo. Ela é como um álbum e família, o álbum da nossa família. Alguém estranho à família pode pegar as mesmas fotos, olhá-las, saber os lugares e as situações documentados nas fotografias... Mas, somente quem é da família sentirá o coração vibrar, somente quem vivenciou aquelas histórias, com aquelas tonalidades e acentuações pode realmente compreender o sentido das fotos... É assim com a Bíblia: nascida na Igreja, confiada à Igreja para guardá-la, ouvi-la, meditá-la, amá-la, celebrá-la na Eucaristia (Palavra feita carne na carne de Cristo) e levá-la ao mundo como anúncio e testemunho de Jesus Salvador, somente na Igreja pode ser colhida em todo o seu sentido e verdade. Fora da Igreja, a Escritura é palavra feita pedaços, feita confusão, é texto submetido ao capricho de mil pretextos, que o desvirtua e faz esconder mais que revelar o verdadeiro rosto de Jesus.
Experimente: tome a Escritura (pode ser a leitura da Missa de cada dia), escute-a com o coração, medite-a com amor e procure escutar o que o Senhor diz à Igreja e a você. Sua vida encher-se-á de nova luz – aquela luz que é o próprio Cristo, Palavra do Pai!
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