Das Homilias de Balduíno de Ford (séc. XII), abade cisterciense:
«Grava-me como selo em teu coração, porque forte como a morte é o amor» (Ct 8,6). «Forte como a morte é o amor» porque o amor de Cristo é a morte da morte. Da mesma forma, o amor com que amamos a Cristo é, também ele, forte como a morte, porque constitui, à sua maneira, uma morte: uma morte que põe fim à vida velha, em que os vícios são abolidos e as obras mortas são abandonadas. De fato, o amor que temos a Cristo – mesmo estando longe de igualar aquele que Cristo tem por nós – é à imagem e semelhança do Seu. Cristo, efetivamente, «amou-nos primeiro» (1Jo 4,19) e, através do exemplo que nos deu, tornou-Se para nós um selo, a fim de que nos tornemos conformes à Sua imagem.
É por isso que Ele nos diz: «Grava-Me como selo em teu coração», como se dissesse: «Ama-me como Eu te amo. Guarda-Me no teu espírito, na tua memória, no teu desejo, nos teus suspiros, nos teus gemidos, nos teus soluços. Lembra-te, homem, de que natureza te criei: de quanto te preferi às outras criaturas, de que dignidade de enobreci, de que glória e de que honra te coroei e como te fiz pouco inferior aos anjos e como tudo coloquei sob os teus pés (Sl 8,6-7). Lembra-te, não apenas de tudo o que fiz por ti, mas ainda de tudo aquilo que, de fato, suportei da tua parte, em sofrimento e desprezo. E vê se não és injusto para comigo, não Me amando. Quem, pois, te amou como Eu? Quem te criou, se não Eu? Quem te resgatou, se não Eu?»
Senhor, arranca de mim este coração de pedra, este coração gelado, este coração incircunciso. E dá-me um coração novo, um coração de carne, um coração puro (Ez 36,26). Tu, que purificas o coração e que amas o coração puro, vem possuir e habitar o meu coração; envolve-o e enche-o, Tu que ultrapassas tudo o que sou e que me és mais interior e íntimo do que eu mesmo. Tu, o modelo da beleza e o selo da santidade, confirma o meu coração à tua imagem, marca o meu coração com a tua misericórdia, Deus do meu coração, meu refúgio e minha herança para sempre (Sl 72,26).
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