sábado, 25 de junho de 2011

A oração, vital como a água – III



Vamos ao último artigo destes três sobre a oração. A questão, agora, é: como rezar?
Vou, primeiramente, apresentar uma classificação bem simples dos tipos de oração. Os dois grandes modos de oração são oração vocal e oração mental. A oração vocal é qualquer oração que rezamos decorada. Por exemplo: mesmo quando rezamos somente com a mente o Pai-nosso ou a Ave-Maria, estamos fazendo oração vocal; quando rezamos um salmo também estamos fazendo oração vocal. É o caso ainda das jaculatórias, aquelas orações curtinhas que nos fazem permanecer durante o dia todo na presença de Deus. Quanto à oração mental, é a oração espontânea, aquela que brota do nosso afeto e da nossa imaginação com total criatividade. A vantagem da oração mental é que empenha mais a nossa atenção e o nosso afeto, além de nos fazer rezar nossas preocupações e situações existenciais. Quanto à oração vocal, tem a grande vantagem de nos manter na presença de Deus seja em que situação emocional estejamos. Tristes ou alegres, atentos ou desatentos, devotos ou áridos, a oração vocal tira-nos de nós mesmos e faz-nos estar na presença de Deus. Isso é muito importante, porque ensina-nos que o centro da nossa oração não somos nós com nossos sentimentos e preocupações, mas unicamente o Senhor, que deve ser amado e buscado acima de tudo. Além do mais, a oração vocal livra-nos do subjetivismo e da necessidade de estar sempre inventando palavras e assuntos para rezar. Neste sentido, a melhor oração vocal são os textos da Sagrada Escritura. Isso mesmo: rezar com a Bíblia, rezar repetindo a Palavra de Deus, sobretudo os salmos. Quem reza a Liturgia das Horas pode experimentar de modo privilegiado esta realidade. Basta recordar que quando os judeus dizem: “Eu medito nas tuas palavras”, estão querendo dizer: “Eu repito com os lábios, decoradamente, as tua palavras”. Para a Bíblia, meditar é repetir a Palavra de Deus, ruminando-a com os lábios, o coração, a mente e o afeto.
Quanto aos movimentos interiores, a oração pode ser de ação de graças, de súplica, de intercessão, de louvor, de pedido de perdão. Em todas elas, o importante é que nos abrimos para o Senhor, reconhecendo nossa incapacidade de gerenciar nossa vida sozinhos, como se nossa existência fosse nossa de modo absoluto. Quem reza mantém-se na presença de Deus; quem reza vai aprendendo a deixar que Deus seja Deus na sua vida.
Finalmente, de modo concreto, como rezar? Reze diariamente; reze o dia todo! Como? Diariamente. Tenha, durante seu dia, um momento de cerca de 20 minutos, meia hora, para a oração. Comece acalmando seu corpo e seus pensamentos. Peça ao Santo Espírito que sustente sua oração. Pegue a Palavra de Deus. Pode ser o evangelho do dia, um salmo, ou outro texto que você escolher. Leia-o com calma, devotamente, com tranqüilidade. Enquanto lê, se uma palavra tocou você, pare ali, repita aquela palavra, saboreie-a. Acontecerá freqüentemente que virão afetos, sentimentos, palavras nos seus lábios. Deixe que venham! Você está rezando! Deus lhe falou e você está respondendo! Quando forem passando as palavras, continue a leitura do texto sagrado até terminar. Se quiser, faça mais um pouco de oração e termine sempre com um Pai-nosso e uma Ave-Maria. É importante que deixemos sempre que a Escritura questione a nossa vida, comprometendo-nos com um processo de constante conversão ao Senhor e aos irmãos. Caso você tenha lido e não tenha sentido nada, nada o tenha empolgado, não há problema; não se preocupe. Terminada a leitura do texto sagrado, simplesmente peça ao Senhor, com poucas palavras, que a sua Palavra dê fruto no seu coração e no chão da sua vida. Se você passar por momentos tão áridos e dispersos que não conseguir rezar de modo algum, pegue sua Bíblia, tome um salmo e vá copiando-o num caderno. Você está rezando: com as mãos, com os olhos, com a atenção e com o desejo sincero de agradar a Deus. Nunca esqueça que o valor da oração não está nos sentimentos, mas no desejo sincero de agradar a Deus e ser-lhe fiel.
Além desse momento privilegiado, é importante passar o dia na presença de Deus. Como fazer? Existem várias possibilidades. Um excelente modo é a reza do terço. Pode rezá-lo aos poucos, durante todo o dia, num momento um mistério, num outro momento, outro mistério. Assim você vai atravessando o seu dia na cadência dessa oração tão cara aos cristãos, com Maria, a Mãe de Jesus. Não se preocupe muito em dizer com atenção cada Ave-Maria. O importante é dizê-las de modo cadenciado, para que permaneça aquele clima de paz, que o irá colocando na presença de Deus. Não é a palavra em si o que mais interessa, mas o estar na presença de Deus. Além do terço, pode-se usar também as jaculatórias (que hoje chamam de mantra), isto é, frases curtas decoradas, que tantas vezes podemos repetir durante o dia. Por exemplo: “Meu Jesus, misericórdia!” ou “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim” ou “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós!” São orações vocais, simples, mas que têm um efeito enorme: mantém-nos na presença de Deus.
Finalmente, a oração mais importante e indispensável para o cristão: a oração litúrgica por excelência, isto é, a Missa. Ali, o próprio Cristo nos une à sua oração de modo eminente. É a Igreja reunida em santa assembléia que é convocada para ouvir a Palavra e dizer “Amém” e, depois, celebrar o Sacrifício eucarístico da Ceia do Senhor. Aqui, a nossa vida de oração chega ao máximo. Já não somos nós quem rezamos, mas o próprio Cristo, que na força do Espírito, nos eleva ao Pai.
Eis aqui, um simples e prático guia de oração. Espero, caro(a) leitor(a) que lhe traga proveito.

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