terça-feira, 31 de maio de 2011

No Espírito, participamos da plenitude de Cristo ressuscitado

Do Tratado Contra as Heresias, de Santo Irineu de Lião (130-v. 208), bispo e mártir:

O Espírito prometido pelos profetas desceu sobre o Filho de Deus feito Filho do homem (cf. Mt 3,16); por isso, acostumou-Se com Ele a habitar os homens, a repousar neles, a residir na obra modelada por Deus. E realizava neles a vontade do Pai renovando-os e fazendo-os passar da sua velhice à Boa Nova de Cristo (Observação minha: Compreenda, meu Leitor, a importância do que este grande bispo teólogo afirma: [1] o Espírito Santo, grande promessa e grande dom dos tempos messiânicos, grande dom que o Messias traria, iniciando o novo tempo, tempo do cumprimento das promessas feitas aos pais, foi dado ao Filho divino na sua natureza humana [corpo e alma humana]; [2] repousando no Cristo-homem, o Espírito será por ele dado a toda a humanidade, recriando em Cristo Jesus, que faz novas todas as coisas segundo o plano original do Pai).
Foi este Espírito que Davi pediu para o homem, dizendo: «Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito» (Sl 50,14, segundo a versão dos LXX). Foi também este Espírito que Lucas diz que desceu sobre os discípulos após a Ascensão do Senhor, no dia de Pentecostes, com poder sobre todas as nações, para os introduzir na vida e lhes abrir o Novo Testamento. Animados de um mesmo sentimento, os discípulos celebraram os louvores de Deus em todas as línguas, enquanto o Espírito trazia a unidade aos povos separados e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações (cf. At 2). (Observação minha: Aqui Santo Irineu mostra vários aspectos da ação do Espírito de Cristo: renova interiormente aqueles que o recebem, concede força para viver e testemunhar o Cristo diante de todas as nações, faz os discípulos orarem no Espírito, orarem unidos a Jesus e em Jesus e congrega e mantém unida a Santa Igreja).
Foi também por isso que o Senhor prometeu enviar-nos um Paráclito que nos reconciliaria com Deus. (Observação minha: Mais uma consequência da ação do Espírito: a remissão dos pecados. Aliás, esta é a sua primeia ação em nós ao recebermos o sacramento do Batismo...) Tal como com a farinha seca não se pode fazer a massa, nem um só pão sem água, assim também nós, que éramos uma multidão, não poderíamos ser um em Cristo Jesus (cf. 1Cor 10,17) sem a Água vinda do céu. Tal como a terra árida não frutifica, a menos que receba a água, também nós, que inicialmente éramos apenas madeira seca, nunca teríamos dado fruto vivo sem a Chuva generosa vinda do alto. Pelo Batismo, os nossos corpos receberam a união com a incorruptibilidade, enquanto as nossas almas a receberam pelo Espírito. É por isso que tanto um como o outro são necessários, dado que os dois contribuem para dar a vida em Deus (Observação minha: Aqui é necessária uma explicação. Irineu é oriental e do II século cristão. Seu modo de raciocinar não segue totalmente a nossa lógica, apesar de exprimir a mesmíssima fé. Pensando em Jo 3,5, onde Jesus fala da necessidade absoluta de nascer de novo da água e do Espírito, Irineu faz um jogo de paralelismo: a água une a Deus o nosso corpo e o Espírito une a nossa alma a Deus, dando-lhe a vida divina. Aqui é preciso cuidado! O que realmente o santo Bispo deseja exprimir é que o Batismo nos dá o Espírito Santo, fonte de vida divina. A água e o Espírito, na verdade, são uma só realidade: a água é símbolo do Espírito [cf. Jo 7,37-39] e este Espírito Santo nos glorifica no corpo e na alma [cf. 1Cor 15,42-45]).


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