sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um verdadeiro “Mês de Maio”

Os católicos costumam recordar no mês de maio a Virgem Maria. Ora, ao menos parte deste mês é ainda ocupado pelo sagrado Tempo da Páscoa, a maior e mais santa de todas as festas que os cristãos celebram. No entanto, freqüentemente, nas nossas paróquias, a tendência é que, chegado maio, se esqueça a Páscoa e as atenções se voltem para o mês mariano. Com franqueza e sem arrodeios é necessário dizer: isto está errado; muito errado!
            Muito mais importante que é “mês de Maria” é o tempo da Páscoa! O centro da nossa fé é Cristo ressuscitado; é pela Páscoa que somos cristãos! Além do mais, o “mês de maio” não é uma festa litúrgica. Onde, no Missal Romano, existe um “mês mariano”? O “o mês de maio” pertence à religiosidade popular e não deve invadir a liturgia! Aliás, que fique bem claro que a liturgia não celebra meses especiais: mês de Maria, mês do Coração de Jesus, mês das vocações, mês da Bíblia, mês das missões, mês do rosário, campanha da fraternidade... absolutamente nada disso é litúrgico e nada disso deve nem pode invadir a liturgia! Seria uma aberração! A liturgia celebra sempre e somente o mistério pascal de Cristo, cujo prenúncio é o Natal e tem por cume o tempo da santa Páscoa! Se Mãe de Deus e os santos são celebrados em determinadas festas litúrgicas, é porque eles são expressão do mistério de Cristo: “como trouxemos a imagem do homem terrestre, assim também traremos a imagem do Homem Celeste” (1Cor 15,49). Isto mesmo: a Virgem e todos os santos são imagens vivas do Homem Novo, Cristo ressuscitado! Na santíssima Virgem e nos santos, celebramos o mistério de Cristo em nós, aquilo que a graça de Cristo, fruto da ação do Espírito Santo, realiza em nós: “até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13). A Toda Santa Mãe de Deus e os santos são resultado da força e do efeito da Páscoa de Cristo, que no Espírito Santo, nos transfigura nele, vencedor do Pecado e da Morte! Daí a belíssima expressão de São Paulo: “Cristo em vós, a esperança da glória”! (cf. Cl 1,27) Então, toda a ênfase, neste tempo pascal, deve ser dada ao mistério do Cristo morto e ressuscitado, doador do Espírito e Senhor da Igreja e do mundo.
            E o mês de maio, jogamo-lo fora, então? Não! Primeiramente, é importante valorizar as devoções populares deste mês: a visita da imagem da Virgem de Fátima às casas, a reza do terço em família ou mesmo com a comunidade reunida na igreja. Quanto à liturgia, o momento oportuno para uma homenagem mariana é o final da Missa, após a oração depois da comunhão: aí se canta um cântico a Maria ou a própria ladainha de Nossa Senhora. Poder-se-ia também, antes do canto ou da ladainha – sempre após a oração depois da comunhão -, dar-se uma palavrinha curta sobre a Virgem, para introduzir a louvação. Pronto, não precisa mais! Homilias sobre Nossa Senhora seria excessivo e não estaria de acordo com o espírito da liturgia deste tempo! A homilia deve ser sempre um comentário atualizado da Palavra que foi proclamada nas leituras daquela missa e não um sermão sobre o tema que o padre escolher de modo arbitrário!
            Aliás, é necessário, nos próprios padres e demais agentes de pastoral, muito cuidado para que se desenvolva no povo de Deus uma autêntica espiritualidade mariana, que contribua verdadeiramente na evangelização. Uma verdadeira espiritualidade mariana do mês de maio deve ser centrada em Cristo ressuscitado: a Virgem é o que é porque nos trouxe o Cristo, foi totalmente serva de Cristo durante toda a sua existência, de Nazaré ao Cenáculo e, por isso mesmo, está na Glória, totalmente transfigurada no Espírito do Cristo ressuscitado! Não deixar isso claro, seria ver a Mãe de Jesus como aquilo que ela não é: uma pessoa desvinculada do mistério de Cristo e da história da salvação. O mês de maio não pode ser um tempo açucarado de muita poesia melosa e pouca teologia consistente em relação à Virgem! Nossa Senhora e o povo de Deus não merecem isso! O Papa Paulo VI chamou a Mãe de Deus de “estrela da evangelização”; que ela o seja! Sê-lo-á se nossas pregações e meditações sobre ela fizerem com que o povo compreenda que a sua glória não é outra que a participação na glória de Cristo, ele que “exaltado pela Direita de Deus, recebeu o Espírito Santo prometido e o derramou” (cf. At 2,33) sobre nós. Ora, a Virgem é a primeira a participar deste Espírito, desde a Encarnação do Verbo em seu seio até à sua glorificação no céu em corpo e alma, onde já se encontra totalmente transfigurada na glória a que o Espírito do Cristo ressuscitado nos introduz.
            Ainda uma observação, triste: há alguns católicos piedosos que têm o péssimo costume de achar que todo aquele que faz uma observação sobre algum exagero na devoção a Maria ou desvio nessa devoção, é porque essa pessoa não ama a Virgem o bastante! Cuidado! Isto é uma rematada tolice, além de uma tendência ao fanatismo! As considerações aqui feitas querem somente fazer crescer o amor à Virgem, mas de um modo correto, segundo o pensamento da Igreja, evitando os excessos e inconvenientes de uma devoção mal formada! Sejamos muito, muito devotos da Mãe de Deus, mas do modo correto e teologicamente consistente, para que ela seja, de fato, na nossa vida, Estrela da Evangelização, aquela que em toda a sua existência traz os sinais do Cristo, nosso Deus!
 
http://www.domhenrique.com.br/

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