segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Humildes em Cristo

Dos Sermões de Jean Tauler (1300-1361), religioso dominicano:

Disse Nosso Senhor: «Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram» (Lc 10,24). Por profetas entendam-se os grandes espíritos sutis e dados ao raciocínio que se apegam às subtilezas da razão natural e delas têm vaidade. Uns olhos assim não são ditosos. Por reis entendam-se os que são da mesma natureza dos mestres, de energia forte e poderosa, mestres de si próprios, das suas palavras, das suas obras e do seu idioma, e fazem tudo o que querem com jejuns, vigílias e novenas, fazendo disso grande alarde, como se de algo extraordinário se tratasse, mas desprezam os outros. Também não são esses olhos que são ditosos.
Todas estas pessoas quiseram ver e não viram. Quiseram ver, mas apegaram-se à vontade própria, uma vontade que encobre os olhos da alma como uma película ou uma membrana encobre os olhos do corpo, impedindo-os de ver. Quanto mais permanecerdes na vontade própria, mais privados sereis de ver com o olhar interior, uma vez que a verdadeira felicidade advém do abandono verdadeiro, que é o afastamento da vontade própria. Tudo isso nasce do fundo da humildade. Quanto menores e humildes fordes, menos vontade própria tereis.
Quando tudo está em paz, a alma vê a sua própria essência e todas as suas faculdades; reconhece-se como imagem racional d'Aquele de Quem saiu, e os olhos que fixam aí o seu olhar podem perfeitamente ser tidos por ditosos por causa do que vêem. E então sim, é a maravilha das maravilhas que se descobre, o que há de mais puro, de mais certo, aquilo que menos poderá ser-vos tirado (Lc 10,42) Possamos nós seguir neste caminho e ver de tal modo que os nossos olhos sejam ditosos. Assim Deus nos ajude!

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